95% dos jovens brasileiros ainda sonham com a casa própria, revela estudo
Pesquisa da PUCPR revela preferências geracionais de moradia, da geração Z aos baby boomers, incluindo quem prefere morar em casa ou apartamento.
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Onde moram e onde desejam morar os brasileiros? Um estudo recente do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) analisou as preferências habitacionais entre diferentes gerações no país.
Realizado a partir de entrevistas com indivíduos da classe média urbana de diferentes faixas etárias, e análises estatísticas, o estudo revela que as adaptações temporárias ao aluguel não eliminam o desejo pela casa própria.
Maioria dos jovens ainda deseja morar em casa própria
Dados do último Censo Demográfico, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, mostram que um em cada cinco brasileiros vive em um imóvel alugado.
Apesar do avanço do aluguel e de um cenário com juros altos e imóveis cada vez mais caros, 95% dos jovens brasileiros ainda sonham em ter um imóvel próprio na terceira idade.
“Os padrões observados desafiam narrativas simplistas de uma suposta ‘geração aluguel’. Há uma série de fatores - individuais, sociais, temporais e espaciais -, que, somados às condições econômicas, mudanças políticas e circunstâncias pessoais, ajudam a explicar o desejo pela casa própria”, afirma o urbanista Rafael Kalinoski, doutor e pesquisador da PUCPR, um dos responsáveis pelo estudo.
Desejos em relação à moradia variam com a idade
A pesquisa mapeou três perfis distintos de aspirações habitacionais, associados a diferentes gerações. O primeiro é o perfil tradicional, mais comum entre os nascidos entre 1945 e 1964, que associa a posse do imóvel à segurança e ao status social.
O segundo é o perfil pragmático, predominante entre aqueles nascidos entre 1965 e 1984, para quem o imóvel representa proteção do patrimônio familiar e garantia de valorização ao longo do tempo.
Já o terceiro é o perfil flexível, mais presente entre jovens nascidos a partir de 1985, que tendem a priorizar liberdade e experiências de vida, como viagens ou mobilidade, em vez de assumir compromissos de longo prazo com financiamentos imobiliários. Eles não veem a propriedade de imóveis como o único caminho para a segurança.
Ainda assim, mesmo entre os mais flexíveis, o desejo de ter um imóvel próprio no futuro permanece latente.
“Embora o aluguel tenha ganhado espaço nos centros urbanos, 90% dos entrevistados afirmaram desejar a casa própria na terceira idade. Para a maioria, o aluguel é uma solução temporária diante das dificuldades econômicas, e não uma escolha definitiva de estilo de vida”, explica o pesquisador.
Casa ou apartamento? Depende da geração
Outra descoberta da pesquisa é a relação entre idade e preferência por tipo de moradia na terceira idade. Enquanto 75% dos jovens da Geração Z e 58,1% da Geração Y sonham em viver em casas, apenas 38% dos Boomers e 38,2% da Geração X compartilham esse desejo.
Entre os mais velhos, a tendência se inverte: 46,8% dos Boomers preferem morar em apartamentos. “Atribuímos esse padrão ao chamado ‘efeito de experiência’: quanto mais vivências habitacionais ao longo da vida, maior o reconhecimento das vantagens práticas dos apartamentos, como acessibilidade, segurança e baixa manutenção. E cabe lembrar que esse pensamento reflete as percepções dos entrevistados nas áreas urbanizadas das regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil”.
A pesquisa, financiada com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do CNPq, contou com a participação do doutor Rafael Kalinoski e do professor Mario Prokopiuk, da PUCPR.
O estudo foi publicado em julho de 2025 no International Journal of Urban and Regional Research (IJURR), sob o título “A ilusão da flexibilidade: aspirações de moradia entre gerações no mercado formal do Brasil”, e pode ser acessado neste link.