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Lenine retorna após uma década com "EITA": Um manifesto pessoal de liberdade, fé e Nordeste

Após 10 anos, Lenine assume o domínio sobre som e imagem; a obra é uma celebração ao Nordeste, afeto e fé, com parcerias íntimas e visuais de cinema.

Por Pedro Lima, Jefferson Albuquerque Publicado em 28/11/2025 às 6:00 | Atualizado em 28/11/2025 às 12:54

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Com a intensidade de quem escreve cada música pensando na família, Lenine retorna ao estúdio com “EITA”, trabalho que chega aos aplicativos de música nesta sexta (28) acompanhado de um audiovisual em média-metragem disponível no YouTube, ampliando a relação entre som, imagem e memória afetiva. 

O novo projeto, que o artista descreve como “um filme para se ouvir e um disco para se ver”, marca seu retorno ao estúdio após um longo período. 

O intervalo desde o álbum “Carbono”, de 2015, atravessou pandemia, crises pessoais e um processo profundo de retomada emocional.

"O trabalho mais recente foi o 'Em Trânsito', mas são quase 10 anos do Carbono, que foi meu mais recente álbum feito em estúdio com músicas inéditas", explica o artista. O cuidado com a família e a vivência de situações de fragilidade fizeram Lenine revisitar a própria relação com a música.

Uma década até reencontrar o estúdio

Na entrevista exclusiva ao Social 1, Lenine explicou que o intervalo de uma década não foi exatamente um hiato planejado, mas consequência de acontecimentos que o deslocaram da criação.

A pandemia — que ele chama de “pandemônio” — apagou perspectivas, afetando-o emocionalmente:
“Fiquei num processo tão depressivo que questionei até se queria continuar fazendo discos”, admitiu, lembrando que o filho Bruno, produtor do álbum, foi peça fundamental para manter viva a vontade de criar.

Ao mesmo tempo, o nascimento prematuro do neto Otto, que passou quase três meses internado, mobilizou toda a família — incluindo Bruno Giorgi, filho e produtor musical do disco.

O período, afirma, atrasou o projeto, mas também o reaproximou da música. “Bruno teve uma culpa maravilhosa nisso. Ele me ajudou a entender que a música ainda era fundamental na minha vida.”

A experiência familiar se entrelaçam ao cotidiano do estúdio, que se tornou espaço de intimidade e experimentação. Lenine detalha a produção de “EITA” como artesanal: cada faixa, cada detalhe da gravação e do audiovisual foi pensado para refletir seu olhar sobre o mundo.

Minha música sempre foi reflexo do meu olhar. O filme foi uma maneira de transformar o álbum em experiência visual e sonora, mantendo a intimidade do projeto”, afirma. A estética sonora, a escolha das colaborações e a narrativa visual convergem para criar uma obra única, que vai além do registro musical tradicional.

Autonomia total e artesania: o disco mais pessoal de sua carreira

“EITA” reúne 11 faixas inéditas com participações de artistas como Maria Bethânia, Maria Gadú, Siba e Gabriel Ventura, além de arranjadores como Carlos Malta, Henrique Albino e Martin Fondse.

O álbum é dedicado a nomes fundamentais de sua formação, como Dominguinhos, Hermeto Pascoal, Letieres Leite e Naná Vasconcelos.

Mas o ponto central do disco, segundo o próprio artista, é a autonomia. “Empoderei-me de todos os meios, todos os caminhos, todas as etapas.”

Lenine explica que sempre teve um processo artesanal, mas desta vez levou essa característica ao limite: assumiu direção artística, imagem, escolhas estéticas, registro sonoro e concepção visual. E revela a origem desse impulso:

“Eu sempre achei que fazia música como se fizesse cinema. Agora, ousei fazer o filme para se ouvir, assim como sempre fiz o álbum para se ver.”

O filme: sonho adiado que virou urgência

O audiovisual que acompanha o álbum, dirigido por Lenine ao lado de Kabé Pinheiro e Laís Branco, quase não aconteceu.

O músico confessa que o projeto seria lançado apenas em 2026, porque a produção visual levaria tempo.

Mas uma inquietação mudou os planos:

“Me deu uma paúra muito grande. Eu já tinha terminado tudo e não ia conseguir esperar.”

Quando disse que desistiria do filme para lançar o disco logo, foi novamente a família que o freou.

Bruno, filho, produtor e elo criativo, o convenceu a realizar o audiovisual, mesmo que fosse preciso produzir tudo em dois meses: “Foi uma tsunami e eu fui surfando ela.”

Lenine destaca que o filme é íntimo, um convite para o público acessar seu universo afetivo, visual e familiar. A narrativa atravessa Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, entre paisagens reais e imaginadas, e conta com roteiro de George Moura e João Moura.

Parcerias que nascem da intimidade

“O disco tem 11 faixas inéditas e uma série de colaborações que vieram de afinidade e proximidade, e não de estratégia comercial”, explica Lenine. O artista detalha a produção de “EITA” como artesanal: cada faixa, cada detalhe da gravação e do audiovisual foi pensado para refletir seu olhar sobre o mundo.

“Minha música sempre foi reflexo do meu olhar. O filme foi uma maneira de transformar o álbum em experiência visual e sonora, mantendo a intimidade do projeto”, conta. A estética sonora, a escolha das colaborações e a narrativa visual convergem para criar uma obra única, que vai além do registro musical tradicional.

As participações do álbum seguem a mesma lógica afetiva. Lenine explica que cada convidado foi pensado a partir da relação pessoal e do diálogo artístico com cada faixa.

Sobre Maria Bethânia, que canta 'Foto de Família'. “Era óbvio. A canção nasceu de uma foto do matriarcado da minha família. Quem melhor que Bethânia para isso?”

A escolha de Maria Gadú, em “O Rumo do Fogo”, foi motivada pela temática indígena e ambiental. E a escolha da cantora dialoga diretamente com o tema da música e sua militância cultural. “Eu, como ambientalista, passo por isso com urgência. E Gadú é militante dessa causa.”

Com Siba, parceiro de longa data, a faixa “Malassombro” foi concebida como homenagem aos poetas cantadores. “Propus a ele: faz uns versos imaginando o nosso encontro, que fazia tempo que não acontecia.”

Gabriel Ventura, músico de sua banda, era presença natural. “É um grande criador. Foi quase imediato.”

Um manifesto de fé, afeto e Nordeste

Além das vozes, o projeto dialoga com o Nordeste. “O grande protagonista do álbum é o Nordeste. O Brasil tem um débito gigantesco com ele”, afirma Lenine, citando referências musicais como Dominguinhos, Hermeto Pascoal, Letieres Leite e Naná Vasconcelos.

A faixa-título “EITA” traz ainda Djavan, Alcione, Lula e Ivete Sangalo, artistas que, na percepção de Lenine, ajudaram a moldar a música brasileira contemporânea.

EITA — palavra que pode expressar surpresa, festa ou encantamento — batiza um disco pulsante, afetivo e enraizado no Nordeste. Na capa, a linogravura da artista pernambucana Luiza Morgado, fotografada por Flora Pimentel, traduz o espírito do álbum como uma casa. “muito nordestina, muito pernambucana e profundamente íntima”. 

“A capa é uma metalinguagem que permite ao observador descobrir ícones e referências de cada canção”, explica Lenine.

No fim, Lenine resume o projeto como um gesto de retomada e liberdade:

“Mais do que um disco, é uma tomada de domínio. Um gesto de existência.”

Com “EITA”, o artista reafirma sua posição como um dos criadores mais inventivos da música brasileira — e celebra, com verdade e poesia, o retorno da chama que o move desde sempre: o prazer de criar.

Gilda Midani/Divulgação
Imagem de Lenine em novo álbum de estúdio: EITA - Gilda Midani/Divulgação
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Imagem de Lenine em novo álbum de estúdio: EITA - Gilda Midani/Divulgação
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Imagem de Lenine em novo álbum de estúdio: EITA - Gilda Midani/Divulgação
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Imagem de Lenine em novo álbum de estúdio: EITA - Gilda Midani/Divulgação
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Imagem de Lenine em novo álbum de estúdio: EITA - Gilda Midani/Divulgação
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Imagem de Lenine em novo álbum de estúdio: EITA - Gilda Midani/Divulgação

FAIXAS

  1. CONFIA EM MIM (Lenine / Dudu Falcão)
  2. EITA (Lenine)
  3. MEU XAMÊGO (Lenine)
  4. O RUMO DO FOGO (Lenine / Lula Queiroga)
  5. FOTO DE FAMÍLIA (Lenine / João Cavalcanti)
  6. BOI XAMBÁ (Lenine)
  7. MALASSOMBRO (Lenine/ Siba)
  8. BEIRA (Lenine/ Gabriel Ventura)
  9. DEITA E DORME (Lenine/ Arnaldo Antunes)
  10. AOS DOMINGOS (Lenine)
  11. MOTIVO (Lenine/ Carlos Posada)

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