StartSe AI Festival mostra que Brasil quer ser protagonista da era da inteligência artificial
Mais do que um evento de tecnologia, o StartSe AI Festival, que contou com mais de seis mil participantes, acendeu um alerta: o futuro não espera

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O StartSe AI Festival, realizado nos dias 15 e 16 de outubro em São Paulo, consolidou-se como o maior evento brasileiro dedicado à inteligência artificial.
Organizado pela StartSe, o festival reuniu cerca de seis mil pessoas — entre executivos, empreendedores e desenvolvedores — com o objetivo de discutir o impacto da IA nos negócios, no trabalho e na sociedade.
O futuro enquanto dormimos
“Enquanto a gente dorme, o mundo muda”, disse o fundador e CEO da StartSe, Junior Borneli, que abriu o evento provocando o público sobre a urgência da adaptação. Para ele, a grande diferença do AI Festival em relação a outros encontros de tecnologia está na abordagem humana.
“Evento de IA tem para todo lado. O que tentamos fazer aqui é trazer consciência sobre o impacto que vem pela frente — nas carreiras e nos negócios. Primeiro, falamos com as pessoas, para que entendam o que precisam aprender e reaprender para continuar relevantes. Depois, com as empresas, para que escolham se vão proteger o passado ou construir o futuro”, explicou Borneli em entrevista ao Social1.
Segundo o CEO, a proposta da StartSe foi dividir o evento em duas conversas complementares: uma voltada à transformação individual e outra à adaptação organizacional. “Trouxemos as big techs americanas, as chinesas e os principais cases brasileiros para mostrar o que realmente gera valor hoje no mundo da IA”, completou.
Brasil usa muito, mas ainda cria pouco
Borneli reconhece que o país ocupa posição de destaque no uso de tecnologias de IA — o Brasil está entre os cinco maiores mercados do ChatGPT, ElevenLabs e outras plataformas —, mas ainda depende de soluções estrangeiras.
“Nós consumimos IA, mas não criamos IA. É como o GPS: usamos, mas se um dia os EUA desligarem o sistema, ficamos sem. O risco é o mesmo. Falamos em soberania de dados, mas ainda não produzimos tecnologia proprietária. Nisso, estamos atrás de americanos, chineses e franceses”, afirmou.
Apesar disso, ele acredita que o potencial criativo do brasileiro pode se tornar uma vantagem competitiva global. “O brasileiro é curioso, gosta de testar, e isso é fundamental. O desafio é dar um propósito prático à tecnologia, usar IA para ser mais produtivo e competitivo.”
Do discurso à prática
Entre as diversas palestras e painéis, o festival reforçou a mentalidade de “aprender fazendo” — ou, como Borneli e o CIO da StartSe, Cristiano Kruel, chamam, o conceito de AI Tinkery. A ideia é incentivar líderes e empresas a experimentarem e errarem pequeno para acertar grande.
“O discurso de inovação precisa virar prática”, provocou Kruel.
O evento também contou com grandes players do setor, como AWS, Google, IBM e Oracle, que mostraram na prática o impacto da IA em produtividade, criatividade e automação. A chinesa Manus AI apresentou sua visão sobre o futuro dos modelos de linguagem, que devem deixar de ser apenas “cérebros” para ganharem “mãos” — ou seja, autonomia para agir.
Resistência e cultura
Na visão de Borneli, o principal desafio para as empresas brasileiras ainda é cultural.
“A resistência à mudança é enorme. A gente acha que não é para agora, que é para daqui a cinco ou dez anos. Mas a velocidade da transformação é muito maior do que conseguimos perceber. É como o paradoxo da janela do avião: olhamos para fora e parece devagar, mas estamos a 900 km/h.”
Para quebrar essa barreira, ele defende a criação de pequenas vitórias dentro das companhias, com exemplos práticos de como a IA pode otimizar rotinas e inspirar outras áreas a seguir o mesmo caminho. “O conselho ajuda, mas o que arrasta é o exemplo”, resume.
O que vem pela frente
Nos próximos cinco anos, Borneli acredita que o uso da inteligência artificial será ainda mais disseminado e acessível — não apenas para grandes empresas, mas também para pequenos negócios e empreendedores individuais.
“A IA vai estar em todo lugar, em todos os setores. O futuro não será um lugar onde ela seja menos relevante do que é hoje. O desafio é garantir que façamos o que é humano — liderar, tomar decisões, criar. O resto, deixamos para as máquinas.”
Com mais de 40 workshops, mentorias, feira de negócios e a estreia do curso AI Journey, o StartSe AI Festival marcou o início de uma nova fase para o ecossistema de inovação brasileiro. Mais do que um evento, tornou-se um manifesto sobre a urgência de despertar para o futuro.
“O futuro pertence a quem escolhe estar acordado”, repete Borneli. “Aprendendo, criando e lutando pela própria relevância.”