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Márcio Almeida leva "Vermelho Cruel" para Amparo 60

Após seis anos sem realizar uma individual no Recife, artista abre exposição na qual propõe um mergulho nas camadas de significado da cor vermelha

Por Alice Lins Publicado em 23/09/2025 às 13:44

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A Galeria Amparo 60 abre, na próxima quinta-feira, 25 de setembro, às 19h, a exposição Vermelho Cruel, do artista Márcio Almeida, com curadoria de Walter Arcela. A mostra reúne trabalhos, entre pinturas e objetos, que fazem um convite a um mergulho nas múltiplas camadas de significado da cor vermelha.

Em sua trajetória, Márcio Almeida tem experimentado múltiplas linguagens, tais como escultura, instalação, performance e objeto. Entretanto, apesar dessa produção, a pintura ocupa um espaço fundamental. Parece ser dela, da pintura, que surgem as primeiras ideias e conceitos que, posteriormente, podem se expandir para outras mídias.

“A pintura faz parte de minha formação de artista. Ao longo dos anos, foi surgindo a necessidade de experimentar novas possibilidades de técnicas e suportes na minha produção, criando trabalhos mais conceituais. Porém, a pintura continuou servindo como base de pesquisa dentro de outras tipologias, como instalações, objetos e até mesmo performances, mesmo não fazendo parte diretamente desses trabalhos. Utilizo a pintura ou desenho como o início do desenvolvimento de uma pesquisa, seja com textos, seja com cores ou até com um diálogo conceitual e/ou uma construção estética”, explica Almeida.

O nome da exposição vem da série homônima, formada em sua maioria por pinturas e que o artista começou a produzir durante a pandemia da Covid-19, a partir da escuta recorrente do disco Azul Invisível Vermelho Cruel, do cantor e compositor pernambucano Lula Queiroga.

“O fato da série ter sido iniciada durante a pandemia se deve ao tempo maior dedicado à pintura, já que passava um longo período do dia dentro do atelier, ouvindo música, rabiscando alguns desenhos, anotações sobre conceitos ou iniciando alguma pesquisa. Essas anotações ou mesmo a aplicação de uma cor específica muitas vezes eram feitas nas telas que estavam preparadas para serem pintadas. Porém, a série ultrapassou o período de confinamento com trabalhos realizados até este ano de 2025”, conta o artista.

Nos trabalhos o vermelho sempre está presente, em maior ou menor medida, mas destacam-se também, segundo o curador “a verbivocovisualidade, uma epistemologia do erro, e a ancestralidade enquanto metodologia”.

O início da carreira de Almeida se deu como letrista, então a palavra tem uma presença e um peso em seus trabalhos visuais.

“Almeida já afirmou que as gêneses de muitos dos seus projetos surgem com uma escrita automática, direto na tela. Dizeres aparentemente desconexos ou descontinuados que evocam a experiência humana do mundo em diferentes culturalidades: relações de trabalho, anatomia, dores, território, práticas culturais. Inventando inclusive uma família de fontes próprias, os dizeres muitas vezes dão pistas do tom do trabalho”, contextualiza o curador.

Divulgação
Cartaz da exposição "Vermelho Cruel" - Divulgação

Arcela destaca a ideia de epistemologia do erro como algo bastante presente na produção do artista. A gestualidade artesanal, livre, sem cálculo, no improviso, numa espécie de escuta da superfície, um processo que permite rasurar, pintar por cima, recomeçar, num “retoque que não é corretivo”.

Já a questão da ancestralidade, também levantada pelo curador, não é tão óbvia, não se apresenta facilmente. Isso porque o termo aqui não se refere a uma iconografia de mitologias e cosmovisões, mas funciona como um método de trabalho. Na década de 1980, o artista cursava Zootecnia e fez diversas viagens à Amazônia. Ele conta que essas experiências de observação dos animais e suas relações, incluindo também os humanos, claro, deixaram influências profundas em sua poética.

“A pintura de Márcio Almeida, nesse horizonte, não tematiza a ancestralidade, mas norteia sua própria constelação de interesses, de maneira profundamente natural, avessa a uma lógica panfletária num corpo que se torna atravessado por perspectivas, ritos, e materialidades, coisas que falam pouco, mas perguntam muito mais”, pontua Arcela.

Nas pinturas da série Vermelho Cruel, percebe-se que a maneira de pintar as cores e os materiais utilizados estão em sintonia com a produção desenvolvida por ele anteriormente. Por isso, além das obras mais recentes, a mostra traz alguns trabalhos anteriores importantes como Los algodones rojos de resistencia (2019) e Guia (2012). Segundo Almeida, essa forma de criar faz parte de um processo desenvolvido por ele, no qual revisita trabalhos na busca por elementos, formas de construção e materiais que possam contribuir com novas narrativas.

“Na pintura, esse processo também acontece, essa percepção da minha produção artística como "espiralar e cíclica" se manifesta no retorno de temas e técnicas com novas abordagens ao longo do tempo, na exploração de padrões recorrentes ou textos que se desdobram e se expandem, mas também na capacidade de a pintura evocar um senso de progressão e evolução, como se fosse uma espiral que se desenvolve, mas que também se reconecta a pontos anteriores. Essa ideia de uma produção espiral e cíclica, presente em minha trajetória artística, demonstra uma busca por um fluxo de tempo não-linear, onde a memória é constantemente revisitada e reinventada através das pinturas, dos objetos, das instalações e das performances”, conta.

A exposição, que fica em cartaz até 31 de outubro, terá um catálogo que traz o texto crítico do curador e será distribuído gratuitamente.

Vermelho Cruel — Márcio Almeida

  • Curadoria Walter Arcela
  • Galeria Amparo 60
  • Abertura: 25 de setembro, 19h
  • Visitação: Até 31 de outubro.
  • Segunda a sexta, das 10h às 19h
  • Sábados das 10h às 15h, com agendamento prévio
  • Galeria Amparo 60 - No 3º andar da Dona Santa (Rua Professor Eduardo Wanderley

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