Mundo e Diplomacia: Thales Castro aponta Mercosul como saída e questiona limites da soberania na América Latina
Em entrevista, especialista em diplomacia analisa tensões na Venezuela, cenário global instável e necessidade de redefinir a defesa nacional

O cenário internacional atual está “verdadeiramente em ebulição”, caracterizado por um contexto “assimétrico” de desavenças estruturais, insegurança e falta de consensos, segundo afirmou o professor Thales Castro durante participação na coluna 'Mundo e Diplomacia', do programa 'Balanço de Notícias', da Rádio Jornal. Em diálogo com o apresentador Ednaldo Santos, Castro, especialista em diplomacia e geopolítica, enfatizou a necessidade de fortalecer as estruturas de integração como forma de reduzir a volatilidade global.
Confira a entrevista na íntegra:
Para o professor, o Mercosul se apresenta como uma resposta essencial a essa conjuntura. “Eu acredito que é fortalecer as estruturas de integração, sobretudo aquelas que colocam naturalmente o Brasil numa perspectiva de defesa do multilateralismo e do comércio justo. E aí, particularmente, eu me refiro ao Mercosul”, destacou.
Fundado pelo Tratado de Assunção em 1991, o bloco - formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai - é visto por Castro como “muito mais do que uma plataforma de integração comercial”.
Atualmente na presidência temporária do Mercosul, o Brasil busca melhorar a capacidade de diálogo do bloco. “O Mercosul é caminho, destino, meio, enfim, de uma outra capacidade de diálogo internacional”, explicou o professor, acrescentando que “o Mercosul é uma saída estratégica para o Brasil. O Mercosul oferece estabilidade, ao que é tão carente nesse cenário internacional”.
Apesar das dissonâncias internas naturais em qualquer pactuação de países, Castro ressaltou que as divergências são “tratadas de maneira respeitosa, diplomaticamente mediada e harmoniosa”. Ele concluiu que o Mercosul representa “uma veia de esperança num tumultuado cenário internacional”.
Tensões na Venezuela e a estratégia de defesa nacional do Brasil
A discussão também abordou as tensões regionais, com a presença de frotas de navios de guerra dos Estados Unidos e a declaração de cartéis de narcotráfico como organizações terroristas pelo governo Donald Trump, especialmente em relação à Venezuela.
O professor classificou essa situação como um “grande desafio” para o Brasil. Embora o país tenha alinhamento com a Venezuela, houve “críticas em relação ao governo corrupto do ditador Maduro” no início da gestão Lula.
O discurso oficial dos EUA é de combate ao narcotráfico, mas Castro alertou que “a gente não pode isolar o Brasil desse fenômeno. Isso não pode estar fora da nossa pauta estratégica de defesa nacional”.
Ele lembrou que o Brasil possui, desde 2008, sua Estratégia Nacional de Defesa, que orienta uma postura “dissuasória” nas relações militares internacionais. “O que é que significa isso? Não ouse invadir o Brasil, não ouse ameaçar a nossa integridade territorial, a nossa independência, porque agiremos, na visão militar, com a força necessária para contrapor essa ameaça”, detalhou.
Castro descreveu o Brasil como estando “no encruzilhado”, devido à sua atuação no âmbito dos BRICS e do Sul Global, mas também pela proximidade com a Venezuela e seu “regime narcoditador”. Diante das “fraturas” atuais, ele sugere que o país precisa “redefinir a política de defesa da Amazônia e colocá-la em perspectiva de século XXI”.
O debate crucial sobre a relativização da soberania nacional
Ainda sobre as ações militares na Venezuela e o combate aos cartéis, surgiu a questão fundamental: combater traficantes ou um regime ditatorial justifica a agressão à soberania de um país?
Segundo Castro, se embarcações são abatidas em águas internacionais, elas podem legalmente ser alvos. No entanto, o cerne do debate é mais complexo.
“A soberania, Ednaldo, a gente sabe, é um princípio valoroso, é um princípio irredutível dos Estados nacionais”, afirmou o professor, citando o artigo 2º da Carta da Organização das Nações Unidas (ONU), que garante a soberania igualitária entre os 193 estados-membros.
Ele destacou, porém, o ponto central da discussão atual: “Está em debate no cenário internacional até que ponto a soberania pode ser relativizada diante de graves ameaças à ordem internacional, sobretudo por essas narcocartelizações da América Latina”.
Para o professor, esse é o ponto-chave: “O debate é até que ponto a soberania deve ser relativizada para defesa de ideais de combate ao narcotráfico, às narcomilícias, aos narcogovernos aqui na América Latina”.
A complexidade desses temas promete permanecer na pauta das discussões internacionais e nacionais, como ressaltado por Thales Castro em coluna na Rádio Jornal.
*Texto escrito com auxílio de inteligência artificial, com base em conteúdo original da Rádio Jornal, e sob supervisão e análise de jornalistas profissionais.