notícias | Notícia

Planeta à beira do abismo climático: pesquisadores alertam para 'pontos de não retorno' irreversíveis

Professora da UFRPE detalha os quatro principais riscos globais e a urgente necessidade de "reengenharia" social e política no Brasil

Por JC Publicado em 28/10/2025 às 17:59

A discussão sobre responsabilidade social e crise climática ganhou contornos de extrema urgência após alertas de pesquisadores e o detalhamento dos chamados "pontos de não retorno". Em entrevista, a pesquisadora em gestão ambiental e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Soraia Eldeir, alertou sobre a proximidade perigosa de mudanças climáticas irreversíveis.

Ouça a coluna íntegra:


Pesquisadores de universidades do Reino Unido estão advertindo que o planeta está perigosamente próximo de ultrapassar esses pontos de não retorno, que significam aquele momento em que o meio ambiente não responde mais, independentemente das ações humanas, e a recuperação não é mais possível.


Os quatro pontos de não retorno em destaque


Um relatório oficial sobre os pontos de não retorno, publicado em 15 de outubro, elenca uma sequência de questões que podem ser agrupadas em quatro pontos principais, segundo a Professora Soraia Eldeir:


1. Branqueamento dos Recifes: Este é um tema já discutido e que, uma vez iniciado, não apresenta retorno.
2. Impacto Florestal e Savanização: A Floresta Amazônica está atualmente 17% impactada. Há um cálculo que indica que, se a devastação atingir entre 20% e 25%, haverá naturalmente um processo de savanização, caracterizando um ponto de não retorno.
3. Derretimento das Geleiras: O derretimento ocorre de forma geral, mas chama atenção a geleira da Groenlândia, que já perdeu mais de 30% da superfície.
4. Descongelamento de Solos Perenes: O derretimento de solos que ficam naturalmente congelados gera o rompimento da lógica de circulação que acontece nos mares, o chamado AMOC (Atlantic Meridional Overturning Circulation).


A soma desses fatores é considerada "muito preocupante", especialmente com a proximidade da COP (Conferência das Partes).


Reengenharia social: o que fazer para amenizar


Diante desse cenário de apreensão, é necessário que a sociedade passe por um processo de "reengenharia" rapidamente. A Dra. Soraia enfatiza que todos devem observar o que usam, o que compram, o que comem e como se locomovem, visto que já estamos acima de 1.5ºC em termos de média global.


Caso os hábitos atuais permaneçam, cada indivíduo estará contribuindo para o agravamento global, cujas consequências podem perdurar por 50 a 100 anos.


Entre as mudanças individuais e coletivas necessárias estão:


• Redução do consumo de carne: É fundamental comer menos carne, especialmente a carne bovina. Um movimento internacional sugerido é a adoção da "Segunda-feira Sem Carne", retirando todo tipo de animal do cardápio neste dia, incluindo pescados.
• Consumo consciente: Deve-se comprar menos e diminuir o uso de plástico de uso único. É crucial, por exemplo, abrir mão de canudos (optando por papel ou recusando-o) e evitar copos descartáveis em qualquer lugar.
• Eficiência energética: É necessário compreender o impacto ambiental em cada decisão. O chuveiro elétrico e o ferro de passar, por exemplo, consomem 12% da energia doméstica cada um. Sugere-se tomar banho frio e preferir roupas que não amassem.
• Alimentação local e da época: Ao fazer compras, é recomendado procurar por frutas da época.
O Dilema do Brasil na Transição Verde Global
Com a COP 30 se aproximando, o Brasil enfrenta um momento decisivo: consolidar-se como líder da transição verde global ou repetir um ciclo de avanços e retrocessos na política ambiental.
A situação é crítica: o Brasil foi responsável por 47,3% da devastação que neste ano alcançou 8,1 milhões de hectares de floresta tropical – um valor 3,1 milhões acima da perda máxima permitida para atingir as metas traçadas para 2030.
A professora Soraia aponta para uma "esquizofrenia" na conduta ambiental do país:
• Matriz Energética Questionável: A matriz energética brasileira é considerada "limpa" oficialmente, mas essa visão é contestada, visto que as hidrelétricas exigem a retirada de florestas, morte de animais e remoção de comunidades, o que não configura uma matriz limpa.
• Contradições Políticas: Enquanto há um discurso de liderança ambiental, houve a recente aprovação da investigação na Foz do Rio Amazonas, cuja exploração deve demorar 5 anos para começar, gerando um "discenso" político.
• Falta de Fiscalização: IBAMA e ICMB não recebem o aparato necessário para realizar uma fiscalização realmente intensa na Amazônia.


Para reverter o quadro, o país precisa de uma decisão política "muito acertada" que foque não apenas na fiscalização, mas também na oportunidade de negócios verdes.
Além das florestas e da energia, o saneamento básico é um ponto crítico. Globalmente, o saneamento atinge 30%; no Recife, apenas 20%. Isso significa que em 80% das casas, a descarga está indo in natura para rios e mares, causando intenso impacto ambiental.


A professora conclui que o país precisa identificar políticos que estejam verdadeiramente comprometidos com a questão ambiental para evitar a repetição de desmandos nas próximas eleições.

 

*Texto gerado com auxílio de IA a partir de conteúdo autoral da Rádio Jornal com edição de jornalista profissional

Compartilhe

Tags