Carreira Militar: Pesquisa aponta que jovens buscam estabilidade e General diz que Exército usa formação como 'filtro'
Estabilidade, ascensão social e vocação militar foram temas centrais do debate da Super Manhã da Rádio Jornal nesta terça-feira (28)
O crescente interesse dos jovens brasileiros pela carreira militar foi o tema central do debate da Super Manhã da Rádio Jornal nesta terça-feira (28).
A discussão, que buscou entender as causas dessa procura e as expectativas das Forças Armadas, reuniu o General de Divisão André Lúcio Ricardo Couto, Comandante da Sétima Região Militar, e o cientista político Dalson Figueiredo, professor da UFPE e coautor de uma pesquisa pioneira sobre o tema.
O debate, mediado pelo apresentador Tony Araújo e com participação da repórter do JC Adriana Guarda, girou em torno da tensão entre a busca por segurança profissional e a real vocação para a vida na caserna.
Pesquisa inédita: estabilidade como atrativo
O professor Dalson Figueiredo apresentou dados de um estudo inédito no Brasil, realizado em colaboração com instituições como a Universidade de Oxford e publicado na revista Armed Forces & Society. A pesquisa ouviu 2.055 brasileiros durante o período da pandemia.
O principal achado, segundo o cientista político, é a motivação econômica.
"O primeiro achado mais impactante é que pessoas, né, jovens, procuram as Forças Armadas como uma forma de 'desenrolar' um emprego que te dê ali estabilidade, que te dê um status social diferenciado", afirmou Dalson.
Figueiredo destacou que essa escolha é influenciada por fatores como gênero (homens são mais predispostos), denominação religiosa e renda familiar.
O professor também anunciou que uma segunda rodada da pesquisa já está financiada e buscará adicionar uma "dimensão qualitativa", por meio de entrevistas, para entender as vivências dos jovens dentro das instituições. O objetivo, segundo ele, é que as Forças Armadas possam usar essas "evidências" para aprimorar programas e políticas.
A visão do Exército: formação de cidadãos e o "filtro" da vocação
Questionado sobre as expectativas do Exército em relação aos novos ingressos, o General André Lúcio Couto foi claro: a instituição espera formar um profissional em "permanente estado de prontidão" e pronto para "cumprir as missões do exército" , como a defesa da soberania e a garantia da lei e da ordem.
O General enfatizou que a formação militar é ampla, indo além do conhecimento técnico (cognitivo).
"Ele também tem uma parte afetiva, atitudinal, que trabalha esses princípios e valores [...] e tem a parte psicomotora também", disse.
O ponto central do debate foi como o Exército lida com a motivação identificada pela pesquisa (emprego), que muitas vezes parece se sobrepor à vocação. O General Couto admitiu que as motivações variam. Citando pesquisas internas da própria força, ele diferenciou os perfis:
- Oficiais (EsPCEx e AMAN): A motivação principal inclui a palavra "vocação" junto com "estabilidade".
- Sargentos (ESA): A motivação predominante é "emprego e ascensão social".
No entanto, o comandante destacou que a própria dureza da formação age como um filtro natural.
"A gente percebe que num ambiente com o tipo de treinamento, com a formação [...] é muito difícil você ficar se você não tiver a vocação", destacou.
"Esse período de formação acaba sendo um filtro também", complementou.
Sobre os jovens que eventualmente deixam a carreira—como mencionado na debate, para prestar outros concursos —o General afirmou que a instituição não vê isso como um problema.
"Muito mais do que formar o combatente [...] nós somos um instrumento do Estado, então a gente também forma o cidadão", afirmou.
"Tudo que ela aprendeu ali como ferramenta de liderança, de método, de princípios, de valores [...] ela vai usar em outra profissão e vai ser feliz e vai ser um bom cidadão", complementou.
O General André Lúcio Ricardo Couto também detalhou as diversas formas de ingresso disponíveis para os jovens, que vão além do alistamento obrigatório:
- Colégios Militares: Definidos como um "berço de líderes" , abrangendo o ensino fundamental e médio.
- Serviço Militar Obrigatório: Que neste ano teve a novidade da incorporação voluntária de mulheres. Na 7ª Região Militar, 75 mulheres foram selecionadas.
- Militares Temporários: Para oficiais e sargentos que podem ficar até 8 anos, selecionados por edital (aviso de convocação).
- Concursos de Carreira: Incluindo o CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), que exige ensino superior em andamento, a EsPCEx (Escola Preparatória de Cadetes) e a ESA (Escola de Sargentos das Armas).