'12 por 8 já não é sinal que está tudo perfeito, mas não é catastrófico', alerta especialista sobre pressão arterial
Nova diretriz reforça cuidados com hábitos de vida; especialista explica impacto da ansiedade, do exercício e até do café na pressão arterial
Durante décadas, o 12 por 8 foi sinônimo de pressão perfeita — virou até expressão popular para resumir que a saúde ia bem. Mas essa referência mudou. Agora, segundo novas diretrizes médicas, esse índice deixou de ser considerado “normal” e passou a representar um estado de pré-hipertensão. A alteração não significa doença, mas exige atenção.
“O 12 por 8 hoje não é mais doença, mas um estágio de pré-intervenção. Se nada for feito, há risco de evolução para hipertensão”, explicou o cirurgião cardiovascular Fernando Figueira, diretor do Departamento de Atenção Hospitalar, Domiciliar e de Urgência do Ministério da Saúde, em entrevista à Rádio Jornal.
O que significa o novo parâmetro
A mudança busca alertar médicos e pacientes para a importância de intervir cedo. “O profissional de saúde, ao encontrar 12 por 8, deve orientar o paciente a praticar exercícios, perder peso, controlar fatores de risco como fumo, estresse e alimentação rica em gordura, além de cuidar do sono”, afirmou Figueira.
Não se trata de iniciar medicamentos. “É fundamental reforçar: 12 por 8 não indica uso de remédios. O caminho é investir em medidas não farmacológicas e acompanhar mais de perto”, destacou o especialista.
Cuidados recomendados para quem está em pré-hipertensão:
- Praticar atividade física regular;
- Reduzir o consumo de sal e gordura saturada;
- Manter o peso adequado;
- Evitar cigarro e excesso de álcool;
- Controlar o estresse e dormir bem.
Ansiedade e pressão: qual é a relação?
A vida corrida e a ansiedade são fatores que podem levar à elevação momentânea da pressão arterial. Segundo Figueira, muitas vezes o problema não está no coração, mas no estado emocional.
“Já atendi pacientes que chegavam à emergência com pressão alta apenas por ansiedade. Muitas vezes, bastava acolher, conversar, tranquilizar. Em alguns casos, um ansiolítico reduzia a pressão”, relatou.
O médico lembra ainda da “síndrome do jaleco branco”, quando a pressão sobe só porque o paciente está ansioso diante do médico. Por isso, uma única aferição não basta para diagnóstico.
Exercício físico: aliado direto e indireto
Se há uma medida poderosa para prevenir a hipertensão, é o exercício. “A atividade física melhora a eficiência do coração e relaxa as artérias. Indiretamente, ajuda a controlar peso, açúcar e gordura no sangue, reduz o estresse e melhora o sono”, explicou Figueira.
Ou seja, ao mexer o corpo, o paciente atua em várias frentes que impactam a saúde cardiovascular.
E o café, pode?
Outro ponto levantado na entrevista foi o consumo de café. Um ou dois cafezinhos por dia não costumam causar problemas, mas exageros podem trazer riscos. “Meio litro de café por dia é muito. A cafeína é estimulante, aumenta a frequência cardíaca e pode elevar a pressão”, alertou o cirurgião.
Figueira lembrou ainda que o tipo de preparo faz diferença: o café coado costuma ter mais cafeína do que o expresso.
Um alerta, não um diagnóstico definitivo
Apesar da mudança, o médico reforça que ninguém deve entrar em pânico. “Não existe um valor único de normalidade. Há pessoas com pressão de 10 por 6 que são saudáveis. O importante é acompanhar, sem rótulos precipitados”, disse.
Mais do que números fixos, a nova classificação busca incentivar hábitos de vida saudáveis antes que a pressão evolua para doença crônica.