Por que 12 por 8 é pré-hipertensão? O que ainda não te contaram sobre a nova visão da pressão arterial

Novas recomendações reforçam hábito saudável para evitar pressão alta. Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia foi divulgada na última semana

Por Cinthya Leite Publicado em 22/09/2025 às 18:27

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O que parecia normal agora é motivo de atenção. A pressão 12 por 8, antes considerada ideal, passa a ser vista como pré-hipertensão por uma nova diretriz médica. O recado vai além dos números: é um chamado à prevenção e ao cuidado coletivo com a saúde do coração.

Mas a necessidade dessa mudança conceitual já estava em consideração por especialistas. Lembro que, em um programa que apresentei em 2018 e transmitido pelo JC Play, o cardiologista Pedro Salerno já alertava que a taxa de 12 por 8 merecia atenção redobrada. Naquela ocasião, ele já enfatizava que 12 por 8 não era mais um sinônimo de tranquilidade, especialmente para indivíduos com fatores de risco cardiovascular. 

"Eu falo da diabetes, da dislipidemia (que é o colesterol elevado) e também da pessoa que fuma. Todos esses são fatores de risco cardiovascular. Eu defendo que esses pacientes, apesar de estarem com pressão arterial 12 por 8, devem ser vistos e cuidados de uma maneira diferente, porque eu entendo que essa taxa de 12 por 8 é o primeiro passo para que eles possam ter os efeitos deletérios da pressão elevada", alertou, há oito anos, Pedro Salerno. 

O alerta para a pessoa com pré-hipertensão

A nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 2025, elaborada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão e Sociedade Brasileira de Nefrologia, formalizou essa mudança e redefiniu o que significa ter pressão normal no País.

Segundo o novo documento:

1. A pressão normal é definida como aquela abaixo de 12 por 8 (120x80 mmHg)

2. A faixa de pré-hipertensão começa a partir de 12 por 8

3. A hipertensão é diagnosticada a partir de 14 por 9 (140x90 mmHg)

Com isso, o patamar de 12 por 8 não representa mais a linha de chegada da normalidade, mas sim um alerta. "Quanto mais baixa e controlada a pressão, menor o risco de infarto, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca e doença renal. O conceito de normalidade deve ser entendido dentro de uma curva de risco, e não como um número fixo", destaca o cardiologista Audes Feitosa, um dos autores da Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 2025. 

O risco por trás do número

O depoimento de Audes Feitosa, que é cardiologista da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE), sublinha que a reclassificação não é arbitrária. Estudos demonstram que indivíduos com pressão arterial de 12 por 8 têm maior risco de desenvolver hipertensão e outras complicações cardiovasculares, quando comparados àqueles com pressão inferior a essa taxa. "O conceito de normalidade, portanto, deve ser compreendido dentro de uma curva de risco, e não como um número fixo."

Para pacientes que estão na faixa de pré-hipertensão (entre 12/8 e 13,9/8,9), o potencial de prevenção é muito grande. A diretriz exige que as medidas não medicamentosas sejam aplicadas e implementadas de forma muito rigorosa. 

"Então, ter um exercício físico regular, comer de forma saudável, manter um peso ideal, não fumar e não beber alcoólica são medidas que todos conhecemos e são fundamentais de serem implementadas. É interessante fazer uma avaliação com o médico. Dessa maneira, pode-se ver também se há outras alterações entre os fatores de risco cardiovascular, como o colesterol, a glicose, o peso em excesso", frisa a cardiologista Andrea Brandão, coordenadora da nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 2025. 

A médica acrescenta que todas são medidas capazes de prevenir que a pessoa se torne hipertensa e venha a ter as complicações relacionadas a essa condição.  

Desafio

No Brasil, a hipertensão é um desafio de saúde pública e afeta mais de 30% da população adulta. É ainda a principal causa de morte evitável.

A nova diretriz traz ainda a necessidade de diagnóstico precoce e metas de controle mais rigorosas, que devem ser personalizadas conforme o risco individual de cada paciente. 

"Precisamos revisar conceitos, levar a sério a medida correta da pressão, repensar hábitos e cobrar políticas públicas que garantam acesso a diagnóstico, tratamento e acompanhamento qualificado", diz Audes Feitosa. 

A diretriz também é um convite a rever rotinas: do cuidado individual às práticas médicas, o objetivo é não deixar a pressão escapar do controle. "A hipertensão é silenciosa, mas seu impacto é ensurdecedor. Que esta atualização ecoe como um chamado à responsabilidade coletiva", finaliza Audes.

Assista a programa sobre hipertensão: 

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