Por que 12 por 8 é pré-hipertensão? O que ainda não te contaram sobre a nova visão da pressão arterial
Novas recomendações reforçam hábito saudável para evitar pressão alta. Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia foi divulgada na última semana

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O que parecia normal agora é motivo de atenção. A pressão 12 por 8, antes considerada ideal, passa a ser vista como pré-hipertensão por uma nova diretriz médica. O recado vai além dos números: é um chamado à prevenção e ao cuidado coletivo com a saúde do coração.
Mas a necessidade dessa mudança conceitual já estava em consideração por especialistas. Lembro que, em um programa que apresentei em 2018 e transmitido pelo JC Play, o cardiologista Pedro Salerno já alertava que a taxa de 12 por 8 merecia atenção redobrada. Naquela ocasião, ele já enfatizava que 12 por 8 não era mais um sinônimo de tranquilidade, especialmente para indivíduos com fatores de risco cardiovascular.
"Eu falo da diabetes, da dislipidemia (que é o colesterol elevado) e também da pessoa que fuma. Todos esses são fatores de risco cardiovascular. Eu defendo que esses pacientes, apesar de estarem com pressão arterial 12 por 8, devem ser vistos e cuidados de uma maneira diferente, porque eu entendo que essa taxa de 12 por 8 é o primeiro passo para que eles possam ter os efeitos deletérios da pressão elevada", alertou, há oito anos, Pedro Salerno.
O alerta para a pessoa com pré-hipertensão
A nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 2025, elaborada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão e Sociedade Brasileira de Nefrologia, formalizou essa mudança e redefiniu o que significa ter pressão normal no País.
Segundo o novo documento:
1. A pressão normal é definida como aquela abaixo de 12 por 8 (120x80 mmHg)
2. A faixa de pré-hipertensão começa a partir de 12 por 8
3. A hipertensão é diagnosticada a partir de 14 por 9 (140x90 mmHg)
Com isso, o patamar de 12 por 8 não representa mais a linha de chegada da normalidade, mas sim um alerta. "Quanto mais baixa e controlada a pressão, menor o risco de infarto, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca e doença renal. O conceito de normalidade deve ser entendido dentro de uma curva de risco, e não como um número fixo", destaca o cardiologista Audes Feitosa, um dos autores da Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 2025.
O risco por trás do número
O depoimento de Audes Feitosa, que é cardiologista da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE), sublinha que a reclassificação não é arbitrária. Estudos demonstram que indivíduos com pressão arterial de 12 por 8 têm maior risco de desenvolver hipertensão e outras complicações cardiovasculares, quando comparados àqueles com pressão inferior a essa taxa. "O conceito de normalidade, portanto, deve ser compreendido dentro de uma curva de risco, e não como um número fixo."
Para pacientes que estão na faixa de pré-hipertensão (entre 12/8 e 13,9/8,9), o potencial de prevenção é muito grande. A diretriz exige que as medidas não medicamentosas sejam aplicadas e implementadas de forma muito rigorosa.
"Então, ter um exercício físico regular, comer de forma saudável, manter um peso ideal, não fumar e não beber alcoólica são medidas que todos conhecemos e são fundamentais de serem implementadas. É interessante fazer uma avaliação com o médico. Dessa maneira, pode-se ver também se há outras alterações entre os fatores de risco cardiovascular, como o colesterol, a glicose, o peso em excesso", frisa a cardiologista Andrea Brandão, coordenadora da nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 2025.
A médica acrescenta que todas são medidas capazes de prevenir que a pessoa se torne hipertensa e venha a ter as complicações relacionadas a essa condição.
Desafio
No Brasil, a hipertensão é um desafio de saúde pública e afeta mais de 30% da população adulta. É ainda a principal causa de morte evitável.
A nova diretriz traz ainda a necessidade de diagnóstico precoce e metas de controle mais rigorosas, que devem ser personalizadas conforme o risco individual de cada paciente.
"Precisamos revisar conceitos, levar a sério a medida correta da pressão, repensar hábitos e cobrar políticas públicas que garantam acesso a diagnóstico, tratamento e acompanhamento qualificado", diz Audes Feitosa.
A diretriz também é um convite a rever rotinas: do cuidado individual às práticas médicas, o objetivo é não deixar a pressão escapar do controle. "A hipertensão é silenciosa, mas seu impacto é ensurdecedor. Que esta atualização ecoe como um chamado à responsabilidade coletiva", finaliza Audes.
Assista a programa sobre hipertensão: