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Educação em Pernambuco: o desafio urgente da alfabetização infantil e a busca por soluções

Dados do programa "Criança Alfabetizada na Idade Certa" mostram em habilidades básicas como ler e escrever um texto simples, o país está patinando

Por Rádio Jornal Publicado em 16/08/2025 às 11:32

O programa Giro Metropolitano dedicou a edição deste sábado (16) para debater um tema de extrema importância para o desenvolvimento de Pernambuco e do Recife: a educação, com foco especial na alfabetização de crianças. O debate contou com a participação do professor Mozart Neves, ex-secretário de Educação de Pernambuco e titular da cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados em Ribeirão Preto da USP; Mirella Araújo, titular da coluna Enem e Educação do Jornal do Comércio; e Fernando Castilho, titular da coluna JC Negócios e repórter do JC.

O professor destacou que a base e o pilar de todo o processo educacional é a alfabetização, e os dados recentes são "bastante preocupantes".

Confira o Giro Metropolitano na íntegra:

A alfabetização: pilar e desafio municipal

A legislação brasileira, em seu regime federativo, estabelece a colaboração entre União, estados e municípios para o desenvolvimento educacional. Para os municípios, cabe prioritariamente a educação infantil (creches de 0 a 3 anos e pré-escola de 4 e 5 anos) e os anos iniciais do ensino fundamental (1º e 2º ano, o antigo primário).

O Professor Mozart Neves, citando o Prêmio Nobel de Economia James Heckman, enfatizou que o melhor investimento que se pode fazer é na educação infantil e na primeira infância, pois "você bota um dólar e lá na frente você recupera sete". Essa fase é onde o processo de alfabetização se inicia e onde as sinapses são formadas, impactando não só a aprendizagem, mas o sucesso futuro da criança.

Os dados recentes do programa "Criança Alfabetizada na Idade Certa", inspirado no modelo cearense, mostram que, mesmo avaliando habilidades básicas como ler e escrever um texto simples, o país está "patinando". É fundamental que os municípios deem atenção especial à alfabetização, mas também olhem para o percurso do aluno até o final do 5º ano e, em alguns casos, para os anos finais do ensino fundamental, em um regime de corresponsabilidade e colaboração.

O cenário preocupante do Recife e a Gestão Educacional

Mirella Araújo revelou que muitos municípios da Região Metropolitana não alcançaram as metas estipuladas pelo MEC, e alguns, como o Recife, inclusive regrediram. A capital pernambucana alfabetizou apenas 54,33% das crianças, quando a meta era 65,29%, um recuo de oito pontos percentuais. O professor Mozart Neves expressou surpresa negativa com o resultado, que considerou "muito longe da meta" e "muito abaixo de municípios do arco metropolitano".

Entre os problemas identificados, destacam-se:

• Falta de formação de alfabetizadores: há uma lacuna na formação de profissionais qualificados para o processo de alfabetização.

• Lentidão na convocação de professores concursados: a demora na nomeação de professores aprovados em concursos públicos atrapalha o planejamento letivo e o ciclo de aprendizagem.

• Remuneração inadequada dos professores: a falta de valorização salarial desestimula a formação de carreira na educação.

• Dificuldade de gestão em grandes cidades: no Recife, a desigualdade entre as escolas é grande, com unidades em áreas nobres tendo resultados melhores do que as da periferia. 

Educação como projeto de Estado: olhando para o futuro

A discussão reforçou que as soluções para a educação não são novidade, mas exigem continuidade, monitoramento e avaliação constantes. A valorização dos professores, com condições adequadas de trabalho, e a consideração do contexto social da criança são igualmente cruciais.

Pernambuco tem a capacidade de aprender com suas próprias referências internas, como o município de Panelas, que alcançou 95% de crianças alfabetizadas. A manutenção das políticas públicas essenciais, como a escola em tempo integral no ensino médio, independentemente das mudanças de gestão, é vital para assegurar os direitos das crianças e jovens. O trabalho deve ser baseado em dados e evidências, comunicando os resultados à sociedade.

Apesar dos desafios, a mensagem final é de otimismo, destacando que com coordenação, estratégias motivadoras e foco, Pernambuco pode alavancar seus resultados educacionais.

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