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Mobilidade no Grande Recife: Especialista aponta caos, falta de gestão e urgência de planos

Congestionamentos no trânsito afetam diretamente o transporte coletivo, elevando seus custos operacionais, especialmente nos horários de pico.

Por Rádio Jornal Publicado em 11/08/2025 às 12:53 | Atualizado em 11/08/2025 às 16:17

A Região Metropolitana do Recife, que abrange 14 municípios e abriga quase 4 milhões de pessoas, enfrenta um cenário de mobilidade urbana que, segundo especialistas, parece estagnado e carente de melhorias efetivas. Em um debate no programa Giro Metropolitano, do Sistema Jornal do Comércio de Comunicação, conduzido pela jornalista Natalia Ribeiro, o especialista em trânsito Ivan Carlos Cunha detalhou as falhas na gestão pública, a degradação do transporte coletivo e os desafios de planejamento que impactam diretamente a vida dos cidadãos. A conversa contou com a participação da jornalista Roberta Soares, colunista de Mobilidade do JC.

Confira o videocast na íntegra:

A crítica à gestão pública e a urgência do diagnóstico

Ivan Carlos Cunha, que já atuou como gestor público e hoje é consultor, não poupou críticas à falta de "entregas" por parte do poder público. Para ele, os gestores possuem as condições necessárias, mas frequentemente falham por "falta de um aprofundamento do conhecimento", "falta de uma condução da gestão" e "falta de iniciativa". Cunha enfatiza que um gestor precisa ter o "olhar da sociedade", compreendendo as ruas e as vias para identificar e solucionar problemas.

Um exemplo marcante de sua própria experiência foi a análise do transporte clandestino 20 anos atrás: em vez de apenas combatê-lo, buscou-se entender por que ele existia. A conclusão foi que ele preenchia lacunas de ligação que o sistema convencional não cobria. Essa abordagem reforça a importância do diagnóstico, considerado por Cunha como o "ponto principal" de qualquer consultoria, capaz de apontar necessidades e direcionar soluções.

O declínio do transporte coletivo e as novas alternativas

O transporte coletivo, que é "o mais importante para a sociedade", transportando teoricamente cerca de 70% da população, tem passado por um "fenômeno de uns 15 anos para cá, de uma mudança de cultura da sua utilização". A principal falha, de acordo com Cunha, é a ausência de um "sistema de transporte de qualidade". Com o surgimento de opções como transporte por aplicativo e o crescimento exponencial das motos, as pessoas buscam soluções no transporte individual, muitas vezes pela deficiência do coletivo. O especialista alerta para o crescimento desproporcional do licenciamento de motos e o consequente aumento de "acidentados, vítimas de sinistros de trânsito" nos hospitais.

O caos e os congestionamentos no trânsito afetam diretamente o transporte coletivo, elevando seus custos operacionais, especialmente nos horários de pico. A "falta de prioridade ao transporte coletivo" é vista como um fator que agrava a situação, impedindo a melhoria do serviço e a otimização da frota.

 

Consórcios e planos de mobilidade: O desafio da integração municipal

Um dos grandes entraves para a melhoria da mobilidade metropolitana é a baixa adesão dos municípios ao Consórcio Metropolitano. Atualmente, apenas Recife, Olinda e Camaragibe fazem parte, enquanto outros 11 municípios, como Jaboatão, São Lourenço, Paulista, Itamaracá e Igarassu, operam seus sistemas de forma individualizada, muitas vezes com Kombis e sem gestão adequada. Para que a integração ocorra, os municípios precisam "estruturar esse sistema local", com novas redes, bilhetagem eletrônica e sistemas de controle, para que o Consórcio possa absorvê-los de forma otimizada.

A resistência dos prefeitos em aderir ao consórcio muitas vezes se dá pela necessidade de injetar dinheiro no sistema, já que o transporte público, em sua visão, exige subsídio público. A governadora Raquel Lyra, inclusive, tem sinalizado que cobrará essa participação metropolitana.

Além disso, a discussão abordou a obrigatoriedade do Plano de Mobilidade Urbana (PMU) para municípios com mais de 20 mil habitantes, com prazos que se encerraram em abril de 2024 para cidades maiores e abril de 2025 para as menores. O não cumprimento implica o risco de não receber verbas federais, como as do PAC Mobilidade. Dados do Ministério das Cidades revelam que 80% das cidades pernambucanas não possuem esse plano. Ivan Carlos Cunha alerta que a prorrogação dos prazos é "improvável", dada a alta adesão de municípios nas regiões Sul e Sudeste. A falta de gestão do trânsito e transporte nos municípios — apenas 25% de Pernambuco estão integrados ao sistema nacional de trânsito, e só três cidades da RMR têm gestão do transporte — torna o PMU muitas vezes uma "letra morta" ou um "control C, control V".

O potencial de retorno e a necessidade de investimento massivo

Apesar dos desafios, há um potencial de recuperação. Uma pesquisa da CNT revelou que 60% das pessoas que deixaram o transporte público "voltariam" se houvesse melhorias. O que os passageiros buscam, conforme Roberta Soares, é "confiabilidade" e "agilidade na viagem", além de um "mínimo de conforto". Priorizar o transporte coletivo no sistema viário, com faixas exclusivas e redução do tempo de viagem, é fundamental para atrair novos usuários.

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