Crise entre Câmara e STF evidencia tensão política e falta de liderança, avalia cientista político
Segundo o cientista político, o conflito envolvendo governo, oposição e decisões do STF produziu um impasse que vai além de disputas pontuais

A recente crise na Câmara dos Deputados, marcada por ocupação da mesa diretora por parlamentares e intervenção direta do ex-presidente da Casa, Arthur Lira, trouxe à tona fragilidades políticas e institucionais. A avaliação é do cientista político Ernani Carvalho, que concedeu entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal.
Segundo o cientista político, o conflito envolvendo governo, oposição e decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) produziu um impasse que vai além de disputas pontuais. "Todo mundo perde e todo mundo comemora", resume, ao apontar que tanto governo quanto oposição saíram do episódio sem avanços concretos, apesar de alegarem vitória.
Um motim, não uma obstrução
Durante a entrevista, Ernani destacou que o que ocorreu na Câmara não pode ser chamado tecnicamente de obstrução parlamentar. "Obstrução é algo regimental. O que houve foi uma ocupação da mesa", explicou.
Segundo Ernani, o episódio se agravou diante da falta de experiência do deputado Hugo Motta na condução dos trabalhos, o que exigiu a atuação direta de Arthur Lira.
De acordo com o especialista, foi Lira quem orientou Motta a ameaçar com a suspensão por seis meses do mandato de quem permanecesse na mesa.
“Quando o Hugo Motta chegou e disse: 'OK, vou suspender por 6 meses o mandato de todo mundo que continuar na mesa', o pessoal foi desocupando. Mudou o clima na hora”, relatou.
Crise institucional e falta de perspectiva
Para o cientista político, o impasse atual é apenas mais um capítulo de uma sequência de crises institucionais no Brasil iniciadas ainda com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “Estamos vivendo sucessivas crises há mais de 10 anos”, avaliou.
Ele apontou ainda que o atual cenário é agravado por um contexto internacional turbulento. “O governo Trump embaralhou ainda mais o cenário interno brasileiro”, disse Ernani, ao comentar as implicações diplomáticas da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Hugo Motta fragilizado
Ao ser questionado sobre a condução de Hugo Motta na presidência interina da Câmara, Ernani destacou que o deputado entrou no cargo por meio de um arranjo político, sem estar plenamente preparado para lidar com crises de grande dimensão.
“Imagine vários colegas ocupando a sua mesa. Isso, em qualquer profissão, seria um complicador”, afirmou.
Ele comparou o episódio ao ocorrido em 2019 com Davi Alcolumbre, também alvo de uma ocupação. No caso atual, porém, a imagem de Motta saiu “fragilizada” e evidenciou o peso das articulações do centrão na formação das lideranças da Casa.
O episódio, segundo Ernani, também antecipa um realinhamento político com vistas às eleições presidenciais de 2026. “Esse tipo de situação vai prejudicar bastante o funcionamento das Casas neste início de semestre. A partir do ano que vem, é o voo da eleição”, disse.
Ele também destacou que, apesar das tensões, o governo federal tende a ser o maior prejudicado pela paralisação do Congresso.
*Texto gerado com auxílio de IA a partir de conteúdo autoral da Rádio Jornal com edição de jornalista profissional.