Em discurso ao lado de Lula, Raquel Lyra reage à antecipação eleitoral e dispara: "Não vim para tirar retrato; vim transformar Pernambuco"
Fala da governadora durante agenda com o presidente expõe tensões com a Alepe, alfineta oposição e reforça retomada de obras como marca do governo
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O evento que marcou o anúncio de investimento de R$ 12 bilhões da Petrobras na expansão da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Ipojuca, assumiu, nesta terça-feira (2), um peso político relevante para a governadora Raquel Lyra (PSD).
Diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), prefeitos, parlamentares e lideranças regionais, Raquel usou a visibilidade da agenda para responder às críticas da oposição na Assembleia Legislativa e reafirmar sua narrativa de retomada de obras e foco administrativo num momento em que o debate sobre 2026 já começa a influenciar o clima político do Estado.
“Eleição é no ano que vem. Agora é hora de trabalhar”
No trecho mais incisivo do discurso, Raquel Lyra mirou no que tem chamado de “antecipação irresponsável da disputa eleitoral” por parte da oposição na Assembleia Legislativa.
A governadora tem acusado blocos adversários de travar projetos estratégicos, derrubar medidas importantes e transformar a Alepe em um palanque permanente desde o início do ano. “Eleição é no ano que vem, que se disputa na urna. Agora é hora de cuidar do povo.”
A repetição do recado foi interpretada como resposta não apenas ao presidente da Assembleia, Álvaro Porto, mas a toda a oposição organizada na Alepe – um grupo politicamente alinhado ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), e que vem se consolidando como o principal polo de resistência ao governo Raquel.
Segundo a governadora, a oposição estaria “antecipando a eleição” e dificultando o desenvolvimento do Estado.
Exaltação das entregas e revisão das obras paradas
Raquel reafirmou o diagnóstico de que, ao assumir, encontrou “mais de 400 obras paralisadas” e destacou ações de retomada como marca da gestão. “Não fomos buscar culpados, fomos trabalhar. Obra paralisada há 10 anos hoje vira realidade em Pernambuco.”
Entre os exemplos citados estão a Barragem de Panelas II, que será inaugurada nesta terça, e a autorização para retomada da Barragem de Igarapeba. O discurso reforçou comparações implícitas com gestões anteriores, sobretudo a de Paulo Câmara (PSB).
“Não vim para tirar retrato”: recado em ambiente de pré-campanha
Em outro momento, a governadora contrastou imagem e entrega: “Eu não vim aqui para tirar retrato. Nem para fazer um filme bonito. Eu vim para fazer transformação.”
A leitura predominante após a cerimônia é que a frase também atinge o prefeito João Campos, presente no evento e reconhecido pelo investimento em comunicação. A fala se insere na tentativa de Raquel de se diferenciar num cenário em que a disputa por visibilidade já é parte da pré-campanha.
Neutralidade de símbolos e tentativa de ampliar alcance político
Raquel buscou se afastar da polarização ideológica e reforçar uma identidade estadual: “Eu não tô falando nem de verde, nem de amarelo, nem de roxo. A bandeira que nos une é a de Pernambuco.”
O gesto tenta dialogar com um eleitorado mais amplo e responde a críticas de que o governo seguiria alinhamentos nacionais rígidos.
Alinhamento institucional com Lula e defesa do protagonismo estadual
Mesmo com o tom político, Raquel manteve sinalizações de proximidade com o presidente. Ela agradeceu pelos investimentos federais e destacou a importância da ampliação da Rnest. “Obrigada, presidente, por não desistir da refinaria, por não desistir de Pernambuco.”
O discurso ocorre enquanto a governadora tenta equilibrar pontes com Brasília e administrar as tensões na Alepe.
Agenda social como eixo: mulheres, creches e combate à fome
Raquel também reforçou pautas sociais, especialmente na área de primeira infância e políticas para mulheres. Ela citou o Pernambuco Sem Fome, a rede de cozinhas comunitárias e o programa de expansão de creches — “250 unidades e 60 mil vagas”.
“Eu trabalho pelas mulheres de Pernambuco, pelas mães que chefiam seus lares. Não perguntei quem votou em mim ou quem vai votar. É compromisso geracional.”
A aposta reforça a tentativa de consolidar uma marca administrativa e responder a críticas sobre o ritmo das entregas.
Raquel em modo 2026 — ainda que sem falar em 2026
Sem mencionar a disputa, a governadora buscou se posicionar como representante da “agenda do trabalho”, contrapondo-se ao que chama de antecipação eleitoral.
“A gente não quer saber de dia santo, fim de semana ou aniversário. A gente quer trabalhar.” Nesta terça, a governadora celebra aniversário.
A leitura entre aliados e adversários é de que Raquel tenta consolidar o protagonismo na narrativa de obras, entregas e parceria federativa, enquanto a oposição — capitaneada pelo PSB e pelo nome de João Campos — movimenta-se de forma mais acelerada.
O recado final foi claro: a governadora quer conduzir o debate sobre Pernambuco a partir de resultados concretos e não pretende permitir que a oposição dite o ritmo político do estado.