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Base de Raquel Lyra esvazia plenário e adia votação de propostas que alteram regras de emendas para a próxima semana

Projetos de autoria da Mesa Diretora sobre emendas estão no centro de um novo impasse na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe)

Por Rodrigo Fernandes, Pedro Beija Publicado em 18/11/2025 às 20:26 | Atualizado em 18/11/2025 às 20:29

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O clima na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) é de incerteza, com a PEC das Emendas aumentando ainda mais o impasse entre a oposição e a governadora Raquel Lyra (PSD), indicando que o fim de ano será de disputa no Parlamento.

O ponto central do impasse atual - longe de ser o primeiro vivido na Casa em 2025 - está nas Propostas de Emenda à Constituição (PEC) 30 e 31, além do Projeto de Lei Complementar 3578/2025, de autoria da Mesa Diretora da Alepe.

Segundo a Mesa Diretora, as propostas - aprovadas nesta terça-feira na Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCLJ) - visam adaptar a Constituição Estadual ao que está previsto na Constituição Federal, com os entendimentos do Supremo Tribunal Federal (STF). Por outro lado, a governadora Raquel Lyra já fez apelo pela rejeição dos projetos, afirmando que não há "fôlego" no orçamento estadual para aumento nas emendas.

Entenda os projetos:

PEC 30

A PEC 30/2025 propõe uma atualização da Constituição Estadual, alinhando ao que já acontece com o Governo Federal. 

Segundo o procurador da Alepe Paulo Fernandes Pinto, cerca de 90% do texto é apenas adaptação técnica, corrigindo dispositivos que ficaram defasados e ajustando artigos declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (STF), harmonizando a redação estadual com o entendimento da Suprema Corte.

PEC 31

Já a PEC 31/2025 prevê o aumento para 1,55% do percentual do orçamento estadual destinado às emendas parlamentares obrigatórias a partir de 2027.

De acordo com o texto, em 2026 continuaria a valer o percentual de 0,9% da Receita Corrente Líquida (RCL) dos recursos destinados pelos parlamentares a várias regiões do Estado.

Em julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 7869, o STF determinou percentual de 1,55% da Receita Líquida Real (RCL) como limite máximo para as emendas parlamentares individuais impositivas em nível estadual. O entendimento se baseia na necessidade de respeitar o princípio da separação dos Poderes.

"Estamos trabalhando para adequar as exigências do Supremo. Há artigos e dispositivos na Constituição do Estado que são inconstitucionais. Temos que alterar a nossa legislação para estar em sintonia com a legislação federal", disse Paulo Pinto, que deu parecer técnico e jurídico à PEC.

PLC 3578

O PLC 3578/2025, também de autoria da Mesa Diretora, determina que as emendas individuais impositivas devem ser executadas de forma obrigatória e equitativa, criando um conjunto de critérios técnicos que precisam ser atendidos para que os recursos sejam liberados, como existência de projeto de engenharia, licenças ambientais, pertinência temática e capacidade de manutenção por parte dos municípios.

A proposta também autoriza o contingenciamento proporcional das emendas em cenários de ajuste fiscal e define obrigações de prestação de informações pelos entes beneficiários.

A matéria ainda reforça a criação de um portal público de transparência, onde deverão ser divulgados, em detalhes, todos os dados referentes à execução orçamentária e financeira das emendas, incluindo contratos, empenhos, cronogramas, valores transferidos e situação de cada projeto.

Propostas foram aprovadas na CCLJ

As duas propostas foram aprovadas pela Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCLJ), na manhã desta terça-feira.

O presidente da CCLJ, deputado Coronel Alberto Feitosa (PL), pediu "lucidez" aos deputados na aprovação da matéria, reforçando a tese de que o objetivo da alteração é adequar a lei pernambucana à determinação do Supremo Tribunal Federal.

Na Comissão, a PEC 31/2025 teve aprovação apertada. Quatro deputados votaram a favor: Diogo Moraes (PSDB), Edson Vieira (União Brasil), Mário Ricardo (Republicanos) e Waldemar Borges (MDB). Já os governistas Antônio Moraes (PP), João Paulo (PT) e Wanderson Florêncio (Solidariedade), votaram contra.

Contrário à PEC, o deputado Antônio Moraes disse que a medida vai contra um acordo firmado entre o Governo e a Alepe, e que isso poderia prejudicar futuras gestões estaduais.

"Lá atrás, foi feito um acordo que até 2028 essas emendas chegariam a 1,2%. Não sou contrário às emendas, mas o Estado tem um planejamento. A gente não pode chegar agora aqui e colocar já em 2027 o percentual de 1,55%, porque vamos ter um novo governo", disse.

Governistas esvaziam sessão plenária e propostas só devem ser votadas na próxima semana

Para a sessão plenária desta terça-feira, havia expectativa de que a Casa votasse a PEC 30 e o PLC 3578, colocados na pauta pelo presidente Álvaro Porto. No entanto, após a retirada do pedido de empréstimo de R$ 1,7 bilhão da pauta, a bancada governista esvaziou a sessão, levando à retirada da ordem do dia. 

Em nota, a deputada Socorro Pimentel (União Brasil), líder do governo, justificou o movimento da bancada governista pelo esvaziamento da sessão. De acordo com Socorro, as matérias propostas pela Mesa Diretora são proposições de "grande impacto" e exigem "estudo aprofundado".

"Por sua relevância e complexidade, é responsabilidade desta liderança e de toda a base governista analisar cada ponto com rigor, garantindo que qualquer decisão tomada reflita coerência, responsabilidade institucional e compromisso com Pernambuco", disse.

"A bancada já iniciou o processo de avaliação minuciosa das propostas, a fim de que o debate e a votação ocorram com a seriedade e a maturidade que temas dessa natureza requerem", complementou.

As duas propostas já foram encaminhadas para a ordem do dia desta quarta-feira (19), mas a tendência é de que o projeto só seja apreciado, de fato, na próxima semana. 

Deputados ouvidos pela reportagem do JC afirmam que além da necessidade de "estudar os projetos", a estratégia de esvaziamento para levar a pauta até a próxima semana possibilita a busca de uma "saída negociada".

Por outro lado, oposicionistas mantém a tese de que o texto pode unir oposição e governo, por ser uma pauta que "fortalece o Legislativo" e não reduziria a capacidade de investimento da gestão estadual, indicando os empréstimos aprovados pelos deputados.

Para ser aprovada de forma definitiva, a PEC precisa receber 30 votos favoráveis no plenário em cada um dos dois turnos de votação. Antes de ir a plenário, a PEC ainda precisa passar pelas comissões de Finanças, Orçamento e Tributação e de Administração Pública.

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