Lula em Pernambuco: "Pernambucanos têm grande privilégio ao contar com políticos do porte de Raquel Lyra e João Campos"
Presidente cumpre agenda no Estado nesta quinta (14) e concedeu entrevista exclusiva ao JC para falar dos anúncios e do cenário político e econômico

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Com agenda marcada em Pernambuco, nesta quinta-feira (14), o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio e falou a respeito dos investimentos que o governo Federal tem feito no Estado, dentre eles: a fábrica da Hemobrás e a abertura de vagas para médicos atuarem nos hospitais através do programa "Agora Tem Especialistas".
Lula também falou do cenário político em Pernambuco para as eleições de 2026, quando a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife João Campos (PSB) devem concorrer ao governo do Estado, além de apontar suas intenções eleitorais na disputa presidencial no próximo ano, e também da conturbada relação econômica com os Estados Unidos diante das tarifas impostas por Donald Trump.
Confira a entrevista exclusiva do JC com o presidente Lula
JC - Presidente, na agenda do senhor em Pernambuco, entre outras pautas, está a inauguração da fábrica de derivados da Hemobrás. Qual a expectativa para o governo e para a população a partir dessa inauguração?
Lula - A fábrica da Hemobrás, que estamos concluindo em Goiana, é a prova de que o Brasil pode ser autossuficiente em medicamentos de alta tecnologia. De que pode produzir aqui mesmo hemoderivados feitos em poucos locais do mundo e – o que é mais importante – garantir que eles possam chegar de forma gratuita à população através do SUS, beneficiando pessoas que sofrem com a hemofilia e outras doenças. Para mim, ver essa fábrica sendo concluída é um grande orgulho, pois criamos a Hemobrás, como empresa estatal, ainda em 2005, e as obras tiveram início no governo da presidenta Dilma, em 2011. Ela também tem um outro significado especial: Pernambuco está definitivamente se transformando em um polo industrial de ponta.
Também em Goiana, a Stellantis está investindo na produção de carros híbridos. E a Petrobras retomou as obras da Refinaria do Nordeste, a RNEST, em Ipojuca, com investimentos R$ 8,6 bilhões do Novo PAC. Nela, aliás, devemos concluir nas próximas semanas algumas obras que irão ampliar sua capacidade de produção – e garantir ainda mais desenvolvimento e emprego de qualidade aos pernambucanos.
JC - Também em Pernambuco, o senhor terá encontro com pacientes de um hospital atendidos pelo “Agora tem especialistas”. O que esse programa traz de novo para a saúde do brasileiro?
Lula - O “Agora tem Especialistas” vai garantir às pessoas o acesso a cirurgias, tratamentos e exames que, até agora, o SUS não conseguia oferecer na quantidade necessária. Nos últimos anos, avançamos muito no atendimento básico, com as equipes de saúde da família, as UBS, o Mais Médicos e o SAMU, mas era justamente no atendimento especializado que víamos as filas e a demora se formarem. O programa resolve isso de uma forma muito inteligente: hospitais privados que têm dívidas tributárias com a União poderão pagar parte dessas dívidas atendendo a pacientes do SUS, de forma gratuita. E planos de saúde que devem ressarcir o SUS quando algum de seus pacientes é atendido na rede pública poderão fazer isso não com pagamentos em dinheiro, mas sim oferecendo atendimento gratuito à população.
É, no fundo, um grande jogo de ganha-ganha. O sistema público de saúde ganha, ao poder contar com o atendimento da rede privada. Os hospitais privados ganham, ao usarem uma parte de sua capacidade que não está sendo aproveitada para abater suas dívidas com o governo. E a população é quem mais ganha, pois terá ainda mais acesso ao seu sagrado direito à saúde.
JC - O Brasil tem enfrentado uma turbulenta relação com os EUA a partir do tarifaço imposto por Donald Trump. O seu governo tem uma política clara de fortalecimento dos Brics, agora ainda mais intensa. O senhor acha que tem alguma chance desse relacionamento com o governo Trump ter algum tipo de avanço positivo?
Lula - A história da política externa do Brasil é a do diálogo e da negociação, sempre de maneira respeitosa e civilizada. Somos uma nação aberta para o mundo, que sempre busca resultados positivos não apenas para nossa economia, para nossos trabalhadores, mas também benéficos para nossos parceiros. Quando fortalecemos nossa relação com os Brics, seguimos essa tradição, que não começou hoje, mas vem sendo construída ao longo de décadas. Estou falando da cooperação entre países do Sul Global que, juntos, têm 40% do PIB global e quase metade da população do mundo. Queremos, em conjunto, achar soluções de comércio, de financiamento e de desenvolvimento a que todos nós temos direito, sem tirar o espaço de nenhuma nação, sem prejudicar ninguém.
Já com os Estados Unidos, temos mais de dois séculos de relações diplomáticas e comerciais. São relações de importação e exportação, de investimentos e de muitas cadeias produtivas integradas. Relações que precisam sobreviver ao episódio da taxação unilateral de nossas exportações pelos Estados Unidos, algo que não faz qualquer sentido, seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista das relações diplomáticas.
Por isso, insistiremos sempre no diálogo altivo, no respeito entre as partes. Não vamos abrir mão de nenhum centímetro de nossa soberania. Não vamos permitir qualquer tipo de interferência em nossas instituições democráticas. Vamos trabalhar para que a razão volte à mesa, e é isso que mais poderá beneficiar a economia e os trabalhadores dos dois países.
JC - Qual o impacto que terá na vida dos brasileiros o pacote de ajuda que o senhor lançou de apoio às empresas atingidas pelo tarifaço do presidente Trump?
Lula - As medidas que lançamos quarta-feira (13) fazem duas coisas ao mesmo tempo. Por um lado, dão segurança imediata às empresas e aos trabalhadores brasileiros: entre outras ações, concederemos R$ 30 bilhões em crédito aos setores mais afetados, com a contrapartida da manutenção de empregos. Por outro lado, olham para o futuro do comércio exterior. Desde 2023, já abrimos 398 mercados para as exportações de produtos brasileiros e temos um potencial gigantesco de crescimento em países da Ásia e outros parceiros.
Por isso, estamos reconstruindo e fortalecendo o sistema nacional de financiamento e seguro à exportação e nos tornando mais competitivos também nesses novos mercados. No fundo, estamos garantindo que, mesmo com mudanças bruscas em um outro país, continuemos tendo bons compradores no exterior – e muitos empregos no Brasil.
JC - Presidente, em 2026, espera-se em Pernambuco uma disputa acirrada pelo governo do Estado entre dois aliados seus: a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife João Campos (PSB). O senhor pretende fazer a escolha por um deles ou prefere apoiar os dois como já aconteceu em Pernambuco?
Lula - É precipitado definir, agora, como iremos atuar nas eleições do ano que vem em Pernambuco, o que depende ainda de muito diálogo com os partidos, as lideranças e, principalmente, o povo do estado. Mas de uma coisa eu sei: os recifenses – e os pernambucanos, em geral – têm um grande privilégio ao contar com políticos do porte da governadora Raquel Lyra e do prefeito João Campos. São pessoas do mais alto nível e realmente comprometidas com a população. E sua juventude me dá a certeza de que ambos poderão contribuir ainda mais para a política de Pernambuco e do Brasil como um todo nos próximos anos.
JC - O senhor tem dito que, com saúde, vai para mais uma disputa buscando a reeleição. Qual a sua disposição hoje para essas eleições presidenciais de 2026?
Lula - Me elegi em 2022 com um programa de governo muito claro, que incluía retirar o Brasil do Mapa da Fome, retomar o crescimento de nossa economia e nossa indústria, trazer a renda e a dignidade de volta ao povo mais pobre, reconstruir políticas sociais que tinham sido desmontadas e garantir que nem nossa soberania nem nossa democracia fossem ameaçadas. Hoje, me sinto feliz ao ver nosso PIB crescer muito acima da média dos anos anteriores. E por saber que a FAO reconheceu que saímos do Mapa da Fome e que o IBGE registra recordes de renda familiar per capita, inclusive em Pernambuco, onde ela cresceu 32% acima da inflação desde 2022.
Nunca tivemos tanta gente trabalhando com carteira assinada ou como empreendedores. Voltamos a contar com programas essenciais como o Minha Casa, Minha Vida, que, para falar só em Pernambuco, desde 2023 já contratou a construção de quase 58 mil novas moradias e retomou as obras de outras quase 11 mil unidades que estavam paradas. E ampliamos o Mais Médicos, que aumentou em 85% o número de profissionais do programa em Pernambuco, que agora chegam a 1.618.
Mesmo sob ataques, hoje vivemos em um país democrático e soberano, que não se move pelo medo, mas pelo interesse de sua população. Não podemos aceitar retrocessos nessas conquistas, não podemos deixar que figuras autoritárias voltem a destruir o que o povo levou tanto tempo para construir. E é com essa disposição – a de cuidar do que já foi feito e poder fazer muito mais – que vejo o processo eleitoral de 2026.