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Celular de Bolsonaro revela articulações políticas e bastidores de influência após fim do mandato; confira

Conteúdo foi extraído pela PF após sua apreensão, em 3 de maio de 2023, na operação que investigou fraudes em certificados de vacinas do ex-presidente

Por JC Publicado em 28/07/2025 às 9:43

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Com informações do Estadão*

Conversas inéditas extraídas do celular do ex-presidente Jair Bolsonaro, apreendido pela Polícia Federal (PF) em maio de 2023, revelam os bastidores de uma possível articulação política com o Congresso Nacional após deixar a Presidência, além de detalhes sobre sua relação com empresários e o uso de sua rede de contatos para tentar manter influência durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os áudios foram obtidos pelo Estadão

Esse conteúdo foi extraído pela Polícia Federal após sua apreensão, em 3 de maio de 2023, na operação que investigou fraudes em certificados de vacinas do ex-presidente. De acordo com o Estadão, o conteúdo é composto por 7.268 arquivos, que incluem conversas de WhatsApp, documentos, áudios e vídeos.

Segundo o Estadão, a grande maioria dos diálogos acessados pela PF estava restrita a um período de uma semana antes do aparelho celular ter sido apreendido. Conversas anteriores a essa data foram apagadas e não foram recuperadas. 

Procurada pelo Estadão, a defesa do ex-presidente disse que não iria se manifestar sobre o assunto.

Orientações

Um dos diálogos revela que Jair Bolsonaro (PL) orientou o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ) a assinar um pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e outros integrantes da Corte.

Hélio Lopes procurou procurou Bolsonaro, em mensagem de áudio enviada no dia 26 de abril de 2023, e pediu uma orientação sobre seu posicionamento. “Boa noite, presidente. A galera tá me pressionando aí porque Eduardo, todo mundo assinou essa CPI de abuso de autoridade do TSE e do STF e eu não assinei até agora porque... eu não queria entrar nessa bola dividida, com medo de prejudicar até o senhor mesmo nas decisões lá. O que o senhor acha aí mais ou menos?”, disse.

Bolsonaro respondeu: “Eu assinaria. Sempre existe a possibilidade de retaliações”. Depois disso, Hélio Lopes afirma: “Já assinei”.

Em 2023, o ex-presidente também orientou seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a articular a derrota do projeto de lei das fake news na Câmara.

O ex-presidente compartilhou diversas publicações contra esse projeto, que estabelecia diretrizes para a divulgação de conteúdo das redes sociais e combate a notícias falsas. A proposta foi apelidada pelos bolsonaristas de PL da Censura e acabou sendo enterrada pelo então presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).

Na conversa com o filho, no dia 2 de maio de 2023, Bolsonaro disse a Eduardo que o projeto deveria ser levado à votação no plenário naquele dia. A expectativa dos bolsonaristas era de que havia votos suficientes para rejeitar a proposta.

Mas, às 19h39 daquele dia, Eduardo enviou uma mensagem a Jair: “Orlando Silva acabou de pedir para retirar de pauta o PL 2630”. O pai respondeu em seguida: “Tem que votar hoje”. “Manifestei pela votação hoje, como líder da minoria”, disse Eduardo.

Preocupações com o agronegócio

Além disso,  diálogos de Bolsonaro no início de 2023 mostram sua preocupação em manter o apoio do agronegócio à sua figura.

De acordo com o conteúdo obtido pelo Estadão, em uma lista de transmissão de Bolsonaro pelo WhatsApp, na qual ele disparava mensagens para um grupo de contatos que incluía deputados e outros aliados, o ex-presidente compartilhou notícias sobre a demarcação de terras indígenas e invasão de fazendas pelo MST no governo Lula.

Em seguida, fez críticas à gestão do petista. “Cada vez mais problemas para o agro”, disse. “Com Bolsonaro: ZERO demarcações”, complementou.

Reprodução / Estadão
Conteúdo foi analisado pela Polícia Federal (PF) - Reprodução / Estadão

Bolsonaro x Notícias falsas

Em outras conversas, o ex-presidente foi orientado a adotar um tom mais cauteloso com a divulgação de notícias falsas após ter se tornado alvo de investigações da Polícia Federal.

O ex-presidente acionava seu assessor Tércio Arnaud Tomaz, que foi apontado como um dos integrantes do chamado “gabinete do ódio”, para checar a veracidade de informações antes de divulgá-las nas suas redes.

No diálogo, Bolsonaro pediu para que ele verificasse um vídeo que mostrava um invasor do Palácio do Planalto no 8 de Janeiro alterando o horário do relógio de Dom João VI.

A imagem passou a ser apresentada nas redes sociais bolsonaristas como uma evidência de que os atos de destruição tinham sido cometidos por pessoas infiltradas, por causa da alteração no horário do relógio. “Ô Tércio, posso botar pra frente esse vídeo do relógio? Tá esquisito aí pô, tá inacreditável. Vê se eu posso botar pra frente aí”, perguntou Bolsonaro.

Tércio consultou sites de notícias e avisou a Bolsonaro que o vídeo era verdadeiro, mas aquela informação sobre a ação dos infiltrados era falsa. O assessor lhe faz um alerta inicial: “Tudo que você enviar sobre isso vai causar polêmica. Sobre esse assunto. Certo ou errado”.

Saiba como assistir aos Videocasts do JC

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