Cena Política: Antônio Moraes diz que conflito entre Alepe e governo é estritamente político e cita 'ditadura da minoria'
Ao videocast do JC, deputado disse que a própria oposição não crê em vitória de João Campos em 2026 e questionou aliança de Miguel com o prefeito

O deputado estadual Antônio Moraes (PP), afirmou que o conflito instalado entre a oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco e o governo do estado em relação à liberação de autorização para captação de empréstimos tem motivações estritamente políticas. A declaração foi dada nesta sexta-feira (4) em entrevista ao videocast Cena Política, do JC Play, o canal do Jornal do Commercio no YouTube.
“O discurso da oposição é de que o dinheiro [de outros empréstimos captados pelo governo] não está sendo gasto, o que não é verdade”, afirmou o parlamentar, elencando obras da gestão Raquel Lyra. “A questão é meramente política, não tenho dúvida”.
Na visão do deputado, a oposição está antecipando a disputa eleitoral para o governo do estado, em que o prefeito do Recife, João Campos (PSB), deverá disputar o cargo com a governadora Raquel Lyra (PSD).
Moraes, inclusive, disse que a medida atrapalhará a própria oposição numa eventual vitória de João Campos. Segundo ele, os entraves estão acontecendo porque o grupo do prefeito não tem certeza da vitória dele no pleito.
“Eles colocam que João Campos já ganhou a eleição. Se o que a oposição diz, que a governadora está fazendo empréstimo e não está utilizando o dinheiro, ele [João Campos] ia receber um estado com muito recurso para fazer todas as obras que Pernambuco precisa. Eles não tem nenhuma certeza de que João Campos vai ser eleito. Se tivessem, não estariam criando [os entraves] e, sim, ajudando”, avaliou.
Moraes também negou que as emendas parlamentares atrasadas seriam o motivo para os entraves, afirmando que o pagamento está lento devido aos processos burocráticos na documentação junto a prefeituras.
Convocação extraordinária não deve acontecer
Segundo Antônio Moraes, o governo Raquel Lyra não conversou com a base na Alepe sobre a realização de uma convocação de sessão extraordinária para votar os empréstimos durante o recesso.
A possibilidade vem sendo ventilada desde o fim dos trabalhos do semestre legislativo, mas nunca foi oficializada. Além disso, uma reforma no ar-condicionado geral da Alepe vai impedir o uso da estrutura física da Assembleia de 16 a 31 de julho, o que reduziria a 10 dias o período hábil para a governadora acionar a medida.
O deputado afirmou que as comissões e Mesa Diretora da Alepe vêm distorcendo os prazos de apreciação de pauta. “A gente tem um regimento interno que não está sendo cumprido. A gente poderia rasgá-lo hoje porque, hoje, não tem nenhuma atribuição”.
“A gente vive uma ditadura da minoria hoje, porque são 14 deputados que mandam em 35. A governadora tem uma base que, se for para o plenário, ela aprova todos os projetos. O problema é que não chega no plenário, porque fica travado nas comissões e na pauta do plenário”, acrescentou.
Articulação política do governo pode melhorar, segundo Moraes
Moraes concordou que a articulação política do governo dentro da Alepe precisa melhorar. No início do ano, a base de Raquel perdeu a presidência das três principais comissões da Casa, que determinam o andamento dos projetos, inclusive a de Constituição, Legislação e Justiça, que era presidida por Moraes e agora está com Alberto Feitosa (PL) — ferrenho opositor da governadora.
“A gente tinha a maioria do Partido Liberal e perdeu [a presidência da comissão] justamente com voto de um deputado da base, que é Renato Antunes. Foi quando houve a indicação de Feitosa. Acho que se era para a [presidência] ir para o PL, Renato deveria ser o presidente. A gente não estaria passando por toda essa dificuldade que estamos passando”, contou Antônio Moraes.
Ele também afirmou que a divisão no União Brasil prejudicou a governadora, citando especialmente o deputado Romero Albuquerque, que, segundo Moraes, “uma hora estava com a gente e outra hora estava no outro lado”.
O deputado reconheceu que se houvesse uma articulação anterior, o governo teria mantido a presidência da comissão de Justiça, o que equilibraria as forças junto à Mesa Diretora.
Entretanto, Moraes afirmou que há espaço para um acordo. “Nossa convivência com Álvaro [Porto, presidente da Alepe, opositor de Raquel] é boa, não há discussão pessoal. Há campo para avançar com Antônio Campos, Waldemar Borges… com Feitosa é mais complicado, porque ele virou direita radical e só pensa em valorizar a área que escolheu. Mas tem espaço para resolver, quebrando uma coisinha nos dois lados para encontrar o caminho”, analisou o deputado.
PP na liderança da federação com União Brasil
Ao ser questionado sobre o posicionamento do PP nas eleições de 2026, após a oficialização da federação com o União Brasil, Moraes afirmou que o presidente estadual do Progressistas, Eduardo da Fonte, garantirá apoio a Raquel.
“No estado, o PP vai marchar com a governadora. A gente tem uma participação grande no governo, Dudu [da Fonte] tem uma bancada hoje muito consistente na Assembleia, com oito deputados e mais três que votam com a orientação dele. Então chega a 11 deputados hoje a bancada do PP na Alepe”, apontou.
Antônio Moraes também questionou até que ponto vai o apoio de Miguel Coelho, presidente estadual do União Brasil, ao prefeito João Campos. “Ele é aliado até se confirmar a vaga dele no Senado. Se não confirmar, acaba a aliança na hora”, disparou.