INVESTIGAÇÃO | Notícia

Após deixar a prisão, Gilson Machado fala em mal-entendido e nega envolvimento em esquema de passaporte para Mauro Cid

Ex-ministro disse que "a justiça brasileira foi iluminada" e que está pronto para prestar "qualquer esclarecimento que, porventura, seja necessário"

Por JC Publicado em 14/06/2025 às 10:57 | Atualizado em 14/06/2025 às 18:15

O ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL) foi solto na noite desta sexta-feira (13) após ter a prisão preventiva revogada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Detido pela Polícia Federal em casa, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, Machado foi levado para prestar depoimento e ficou custodiado por cerca de 12 horas no Centro de Observação Criminológica Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, na Região Metropolitana. Ele deixou o local por volta das 23h, em cela isolada dos demais detentos.

A prisão foi decretada no âmbito de um inquérito que apura se o ex-ministro tentou facilitar a saída do país de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), por meio da obtenção de um passaporte português. Segundo a Polícia Federal, Machado teria atuado junto ao consulado de Portugal no Recife, em maio deste ano, a pedido de Cid. No celular de Cid, que é delator de investigações contra o ex-presidente, foram encontrados arquivos que indicariam a tentativa de obter a cidadania portuguesa desde janeiro de 2023.

Na decisão que revogou a prisão, Moraes afirmou que há indícios suficientes de que Gilson Machado buscou ajudar Mauro Cid a fugir da aplicação da lei penal, o que pode configurar o crime de obstrução de investigação. No entanto, o ministro considerou que a prisão preventiva não é mais necessária após as diligências realizadas pela Polícia Federal. “Sua eficácia já se demonstrou suficiente, podendo ser substituída por medidas cautelares alternativas”, escreveu. Moraes também registrou que, durante a audiência de custódia, a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou a favor da substituição da prisão por medidas menos gravosas.

Com a revogação, o ex-ministro foi colocado em liberdade, mas passou a cumprir medidas cautelares, como: comparecimento quinzenal à Justiça, proibição de viagens e de saída do país, cancelamento do passaporte e proibição de emitir ou renovar o documento.

Na saída do presídio, Gilson Machado falou rapidamente com a imprensa. Ele voltou a negar qualquer irregularidade e disse que tudo não passou de um erro de interpretação:

“Eu acho que tudo isso foi um grande mal-entendido. É importante destacar que a revogação da prisão foi feita pela mesma pessoa que a decretou, o próprio ministro Alexandre de Moraes, o que demonstra que houve uma reavaliação dos fatos. Graças a Deus, a justiça brasileira foi iluminada mais uma vez. Estou pronto para qualquer esclarecimento que, porventura, seja necessário em decorrência desse episódio", diz.

O ex-ministro reforça que o passaporte que tentou tirar foi para seu pai e não para o ex-Agente de Ordem de Jair Bolsonaro. 

“Todo mundo sabe que o processo para obtenção de passaporte português leva cerca de três anos. Eu pedi o documento para o meu pai. Inclusive, após esse pedido, meu pai foi ao Consulado de Portugal, acompanhado do meu irmão, Carlos Eduardo Machado. Mandei um áudio para a funcionária Juliene, pedindo a renovação do passaporte do meu pai, e ele foi devidamente atendido. Não fui eu quem o acompanhou, foi meu irmão."

“Essa confusão foi, de fato, um mal-entendido. Todo mundo viu na imprensa que o major Cid já era cidadão português desde fevereiro deste ano. Não houve qualquer tentativa de burlar ou enganar a Justiça", afirma.

Questionado sobre sua convivência com Mauro Cid, ele conta que não ultrapassava a esfera profissional. “Minha relação com o Mauro Cid sempre foi profissional. Eu era ministro de Estado, ele ajudante de ordens do presidente. Tivemos uma convivência institucional, protocolar. Ele nunca me pediu ajuda para obter qualquer documento, e eu também nunca ofereci nada nesse sentido”, destaca.

“Acredito que tudo esteja esclarecido. Talvez as autoridades não soubessem que meu pai havia ido pessoalmente ao consulado tirar o passaporte. Agora está tudo registrado. E é importante frisar: o próprio ministro que decretou a prisão, revogou espontaneamente, de ofício, ao entender que a medida já havia cumprido seu papel. Isso mostra que o sistema de Justiça funciona.”

O advogado do ex-ministro, Célio Avelino, também se pronunciou após a liberação. Segundo ele, a defesa ainda não teve acesso ao processo completo.

“Não tivemos ainda acesso ao conteúdo completo do processo, então não sabemos exatamente quais foram os fundamentos utilizados para justificar a prisão. Mas, felizmente, ela foi revogada e agora seguiremos colaborando com a Justiça para esclarecer todos os pontos”, observa. 

Gilson Machado foi ouvido na superintendência da PF no Recife, passou por exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML), no bairro de Santo Amaro, e depois transferido ao Cotel. De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap), ele foi mantido em cela separada “para a garantia da sua integridade física”.

Durante a operação da Polícia Federal, foram apreendidos o celular, o carro e outros pertences de Machado. A Procuradoria-Geral da República já havia se manifestado a favor da investigação.

Com 57 anos, Gilson Machado é empresário do setor de turismo, sanfoneiro e médico veterinário formado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Foi ministro do Turismo entre 2020 e 2022, no governo Bolsonaro, e concorreu ao Senado por Pernambuco nas eleições de 2022.

Entenda o caso

O que motivou a prisão de Gilson Machado?

A Polícia Federal investiga se o ex-ministro atuou para conseguir um passaporte português para Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, com o objetivo de facilitar sua saída do País. A suposta ação teria ocorrido em maio de 2025, junto ao Consulado de Portugal no Recife.

Como o caso veio à tona?

Durante investigações contra Cid, a PF encontrou arquivos no celular do militar que indicariam tentativas de obter cidadania portuguesa, iniciadas em janeiro de 2023. Isso levou à abertura de um inquérito que incluiu Gilson Machado.

Qual a posição da PGR?

Na terça-feira (10), a Procuradoria-Geral da República se manifestou a favor da investigação de Gilson Machado e enviou a solicitação ao STF.

O que aconteceu na sexta-feira (13)?

Gilson foi preso preventivamente pela Polícia Federal em sua casa, no Recife. Ele negou envolvimento, prestou depoimento, passou por exame de corpo de delito e foi levado ao Cotel, onde ficou isolado.

O que disse Gilson Machado?

Afirmou que apenas pediu, por telefone, a renovação do passaporte português do pai, de 85 anos. Segundo ele, o pai compareceu ao consulado com outro filho no dia seguinte.

Por que foi solto?

O ministro Alexandre Moraes considerou que a prisão preventiva não era mais necessária após as diligências realizadas pela Polícia Federal. Dessa forma, ecidiu substituir a prisão por medidas cautelares alternativas. A prisão foi revogada à noite e Gilson deixou o presídio por volta das 23h da sexta-feira (13).

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