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Pernambuco agora tem 6.830 ‘lugares’ mapeados pelo IBGE — o que isso significa

O Censo 2022 ampliou a definição de "localidade", desde povoados até bairros informais entram no balanço. Pernambuco já passa de seis mil dessas áreas

Por JC Publicado em 24/11/2025 às 15:50

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O Censo 2022 trouxe uma mudança importante na forma de enxergar o território brasileiro. A partir da nova metodologia adotada pelo IBGE, Pernambuco passou a registrar 6.830 localidades, contra apenas 1.112 identificadas no levantamento de 2010. O salto não representa uma explosão de novos povoados ou bairros, mas um detalhamento mais fino daquilo que, na prática, sempre existiu - os diferentes “lugares” onde as pessoas vivem, trabalham, formam comunidades e constroem suas relações, muitas vezes distantes das sedes municipais ou das áreas urbanizadas.

No conceito atualizado pelo IBGE, localidade não é apenas cidade, distrito ou povoado formalmente reconhecido. O termo agora inclui todo agrupamento de moradores com presença permanente e identidade própria, mesmo que pequeno ou invisível pelos critérios anteriores. Em linguagem simples, podem ser desde vilas e aglomerados rurais até pequenas áreas conhecidas pelo nome — às vezes uma rua com poucas casas, um conjunto de residências numa estrada, um sítio reconhecido localmente ou uma comunidade tradicional que nunca apareceu no mapa oficial.

Georreferenciamento

Essa mudança só foi possível porque, no lugar da contagem limitada aos limites político-administrativos, o IBGE incorporou tecnologias de georreferenciamento e imagens de satélite de alta resolução, além de categorias que ajudaram a enxergar melhor o território, como “localidades quilombolas”, “localidades indígenas” e, principalmente, a categoria “outras localidades”, que sozinha concentra boa parte dos novos registros. Segundo o instituto, esse grupo funciona como uma espécie de “lupa” sobre pequenos assentamentos que antes ficavam diluídos dentro de setores censitários maiores.

A ampliação ajuda a revelar um Brasil que nem sempre cabe na noção de cidade. No caso de Pernambuco, o número elevado de localidades reforça a forte presença de áreas rurais, comunidades tradicionais e pequenos núcleos habitados, fenômeno que também se destaca no Norte e no Nordeste do país. Mais do que curiosidade estatística, isso traz impactos diretos para políticas públicas e planejamento territorial.

Com as localidades agora identificadas nominalmente, o poder público pode mapear onde há escolas distantes das sedes municipais, onde o transporte coletivo não chega, quais regiões têm dificuldade de acesso a serviços de saúde ou onde estão grupos populacionais que historicamente ficaram fora do radar.

O avanço no mapeamento também tem efeito simbólico. Para o IBGE, reconhecer esses “lugares” significa dar visibilidade a formas de vida que não cabiam na estrutura anterior do censo, permitindo uma leitura mais fiel do território e da população. Na prática, o mapa oficial do Brasil ganha camadas mais humanas, não apenas fronteiras e capitais, mas também o cotidiano de quem vive em vilas, lugarejos, sítios e comunidades que agora passam a existir estatisticamente — e, a partir daí, podem ser vistos, contados e incluídos.

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