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Evento Recife Exchanges debate soluções para enfrentar a crise climática na cidade

Em entrevista à Rádio Jornal, arquiteta destaca a importância do planejamento urbano integrado e os riscos causados pela elevação do nível do mar

Por Isabella Moura Publicado em 14/10/2025 às 16:58

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Durante entrevista ao programa "Passando a Limpo", da Rádio Jornal, nesta terça-feira (14), a arquiteta e pesquisadora Mila Montezuma falou sobre os riscos que o Recife enfrenta com a elevação do nível do mar e a necessidade de um planejamento urbano mais resiliente. Ela é co-coordenadora do projeto Recife Exchanges Netherlands (RxN), que acontece até a sexta-feira, 17 de outubro, no Apolo 235, no Bairro do Recife e reúne especialistas do Brasil e da Holanda para debater soluções estruturais para a cidade.

O evento é fruto de uma cooperação de quase 15 anos entre os dois países e pretende propor estratégias concretas de adaptação diante dos efeitos das mudanças climáticas, como enchentes, secas e a salinização dos aquíferos.

Parceria "Recife e Holanda" e soluções

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arquiteta Mila Montezuma alerta sobre os riscos da elevação do nível do mar e defende soluções urbanas integradas - DIVULGAÇÃO

Durante a entrevista, Mila explica o fenômeno.“Recife é uma cidade construída sobre as águas. Tomamos espaços que eram de maré, de rios, de lagoas. E agora, as águas estão, naturalmente, buscando retornar ao seu território”.

“O desafio é entender a alma desse território, que é uma planície alagável formada por três rios — Capibaribe, Beberibe e Tejipió — além da frente atlântica.”

A arquiteta destacou que o Recife precisa de uma abordagem sistêmica e de longo prazo, com envolvimento da sociedade e políticas públicas consistentes. Segundo ela, o projeto Recife Exchanges é parte de uma visão holística iniciada há 15 anos com o conceito da Árvore d’Água, que entende a cidade a partir da sua matriz aquática.

“Já temos alguns projetos estratégicos em curso, como o Parque Capibaribe, o Jardim do Baobá e o Parque das Graças. Mas isso é só o começo. Precisamos de mais pesquisas, mais parcerias e políticas públicas efetivas para que essas transformações ocorram de fato.”

A participação da população também é considerada fundamental. Mila ressalta que o envolvimento das comunidades locais nos processos de escuta e planejamento é parte essencial do projeto.

“Cada pessoa — homens, mulheres, jovens, idosos — precisa fazer parte desse pensamento sobre o futuro, que começa agora, com os desafios que já enfrentamos. Precisamos sair da lógica de ações isoladas. Não se pode pensar apenas em um trecho da cidade, mas no sistema como um todo.”

Soluções para além da “engorda” da faixa de areia

Mila Montezuma também comentou sobre soluções costeiras como a "engorda" da faixa de areia — técnica que consiste em ampliar a faixa de praia para conter o avanço do mar — alertando que esse tipo de medida precisa ser avaliada com cuidado e inserida em um contexto mais amplo.

“Não podemos acreditar em soluções simples. Talvez a engorda seja parte da resposta, mas não pode ser a única. Precisamos pensar em ilhas que contenham a energia cinética dos oceanos, em soluções baseadas na natureza, e, principalmente, em estudos multidisciplinares e de longo prazo.”

Ela defende que os dados brutos desses estudos sejam acessíveis à sociedade civil e não fiquem restritos a relatórios técnicos. “É necessário que a sociedade participe, acompanhe, questione e se engaje.”

Canal da Agamenon e as águas subterrâneas

Durante a entrevista, Mila também falou sobre o Canal da Avenida Agamenon Magalhães, explicando que ele está sendo estudado dentro de um plano maior, que considera todo o sistema hídrico da cidade, tanto na superfície quanto no subsolo.

“Não se trata apenas do Canal da Agamenon, mas de todas as frentes d’água do Recife. Estamos falando também de águas subterrâneas e dos chamados rios atmosféricos, que provocam chuvas intensas. É preciso entender a cidade como um todo — das bacias hidrográficas à escala dos bairros.”

Participação comunitária e continuidade

A arquiteta reforçou que o trabalho realizado pelo Recife Exchanges Netherlands faz parte de uma série de ações do projeto Reciclar Cidade-Parque, que busca reconfigurar a cidade a partir de uma convivência mais harmônica com suas águas.

“Essas ações não se encerram em uma semana. Fazem parte de uma trajetória de mais de 15 anos. São processos de ativação que envolvem escutas nas comunidades, mapeamento de sonhos e oportunidades, não apenas de riscos. É assim que a gente maximiza os benefícios sociais e compartilha valores.”

Mila finalizou destacando o papel da ciência e da sociedade na construção de soluções duradouras. “Precisamos investir em ciência participativa. Precisamos envolver quem mais precisa e garantir que essas decisões sejam feitas com transparência, profundidade e visão de futuro.”

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