Pernambuco | Notícia

Reciclagem de plásticos no Brasil melhora em 2024 e aponta necessidade de novos investimentos para catadores

Integração dos catadores de materiais recicláveis com os sistemas de gestão de resíduos ainda é um desafio para a economia circular inclusiva no país

Por Laís Nascimento Publicado em 29/09/2025 às 13:57

Clique aqui e escute a matéria

Após um ano de queda, a indústria de reciclagem de plásticos no Brasil voltou a crescer em 2024. O avanço, ainda tímido, trouxe resultados animadores para a economia e para o meio ambiente: aumento no volume reciclado, geração de empregos, faturamento bilionário e combate à crise climática.

É o que mostra o novo estudo encomendado pelo Movimento Plástico Transforma, iniciativa do PICPlast – parceria entre a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST) e a Braskem.

Divulgada na última quinta-feira (25), a pesquisa tem como objetivo analisar a indústria de reciclagem de plásticos no Brasil e acompanhar os desafios do setor. Além disso, acompanha as metas da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e de desenvolvimento sustentável nas regiões do país.

De acordo com os dados, só em 2024, foram geradas 4,82 milhões de toneladas de resíduos plásticos pós-consumo no Brasil.

Mas, apesar de tímido, o resultado é animador: o ano foi marcado por uma recuperação dos volumes plásticos reciclados, chegando a 21% em todo o país.

A maior parte desse material foi destinada aos setores de Alimentos e Bebidas (167 mil toneladas) e Higiene Pessoal, Cosméticos e Limpeza Doméstica (132 mil toneladas), que são os principais consumidores, impulsionados pela demanda por embalagens com conteúdo reciclado.

Principais números da reciclagem em 2024:

  • 21% reciclados em todo o país
  • Mais de R$ 4 bilhões de faturamento da indústria
  • Mais de 20 mil empregos diretos criados

Neste cenário, o Nordeste ganhou protagonismo: a região já é a terceira força produtora de resina reciclada pós-consumo, com 13,7% do total do país (139 mil toneladas).

“Apesar das dificuldades, houve alguns sinais positivos: setores ligados a compromissos ESG e metas de circularidade, como grandes embaladores e marcas de consumo, mantiveram demanda constante para determinadas aplicações, em linha com seus objetivos”, destaca Maurício Jaroski, diretor de química sustentável e reciclagem da MaxiQuim.

Catadores: o elo essencial

Foto: Diego Nigro/Acervo JC Imagem
Desenvolvimento sustentável e economia circular inclusiva devem passar pela integração dos catadores de materiais recicláveis com os sistemas de gestão de resíduos - Foto: Diego Nigro/Acervo JC Imagem

A integração dos catadores de materiais recicláveis com os sistemas de gestão de resíduos ainda é um desafio para a economia circular inclusiva no país.

De acordo com a pesquisa, os catadores ainda são os menos beneficiados pela indústria, mas os índices têm mudado. Do total de materiais comprados, apenas 0,5% é adquirido diretamente com esse grupo - contra 23% de indústrias, 11% de empresas de gestão de resíduos e 10% de cooperativas.

“Observamos que os catadores informais e as cooperativas perderam participação para os sucateiros, um reflexo da baixa remuneração que tem enfraquecido a força de trabalho das cooperativas”, explica Maurício Jaroski.

Atualmente, grande parte da reciclagem do Brasil é feita por catadores autônomos e cooperativas, que vivem em condições de vulnerabilidade. Sem conseguir vender o material por valores satisfatórios, a categoria ainda enfrenta dificuldades como ter sustentabilidade na cooperativa, por exemplo, e não conseguir pagar os custos mínimos como água, energia elétrica e salário dos cooperados.

“A estrutura que os catadores têm é muito defasada, os maquinários estão sucateados e os galpões não comportam o trabalho. Não temos o mínimo de estrutura para trabalhar. Cada grupo tem que se virar como pode”, conta a catadora de Abreu e Lima Lindaci Gonçalves, representante de Pernambuco no Movimento Nacional Eu Sou Catador (MESC).

Cada grupo tem que se virar como pode”
Lindaci Gonçalves, representante de Pernambuco no Movimento Nacional Eu Sou Catador

Foto: Bobby Fabisak/Acervo JC Imagem
Novos programas vêm sendo implementados para incentivar a compra direta de material dos catadores individuais - Foto: Bobby Fabisak/Acervo JC Imagem

No entanto, novos programas vêm sendo implementados para incentivar a compra direta de catadores individuais e melhorar suas condições de trabalho - e vida.

É o caso do Projeto Cidades Circulares, da Ambipar, que visa a transformação de catadores em profissionais de reciclagem.

“Às vezes, a cooperativa de catadores está desestruturada e eles não enxergam ali como local de trabalho e muitas pessoas estão em situação vulnerável. Então, a gente traz empresas parceiras que precisam atender o percentual de logística reversa, entra na cooperativa e faz dali um local de trabalho”, explica a diretora Comercial e Institucional da Ambipar, Giulianna Coutinho.

A iniciativa busca oferecer oportunidades para aumentar a renda e melhorar as condições de trabalho, com o objetivo de fortalecer a economia circular e impulsionar a sustentabilidade em centros urbanos como o Recife.

O programa atua, ainda, promovendo formação aos profissionais relacionada ao Protocolo do Plástico, que já gerou um aumento de mais de 150% na renda média dos catadores nesse segmento específico.

De acordo com a empresa, a remuneração da maior parte dos grupos participantes aumentou para mais de R$ 1.900.

"O aumento na renda desses trabalhadores é muito importante, pois contribui para o sustento de suas famílias e também resgata a dignidade por meio de uma atividade tão importante para o nosso planeta”, conta Juliana Navea, diretora de operações da unidade de pós-consumo da Ambipar.

O projeto passa por uma estruturação de quatro fases: a primeira é de diagnóstico e planejamento; a segunda e terceira são de implementação das ações; e a última de consolidação e expansão.

De acordo com a Ambipar, atualmente as cooperativas participantes contam com mais de 110 profissionais que, no diagnóstico inicial, recuperavam em média 19,1 toneladas de materiais recicláveis ao mês. Até o final do projeto, a expectativa é que cada uma aumente mais de 30% a produção.

Enquanto atuam na base e esperam por mais investimento, os catadores de resíduos sólidos são o elo essencial do país com o desenvolvimento sustentável e com o combate à crise climática.

Citação

Cada grupo tem que se virar como pode”<br>

Lindaci Gonçalves, representante de Pernambuco no Movimento Nacional Eu Sou Catador

Compartilhe

Tags