Mercado de roupas reaproveitadas cresce e fortalece o consumo consciente no Brasil
Em Pernambuco, projeto Repense Reuse disponibiliza 70 pontos de arrecadação e já recebeu 15 toneladas de roupas, calçados e acessórios

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O mercado de roupas reaproveitadas vem crescendo no Brasil e no mundo, impulsionado pelo avanço da moda circular e pelo Dia Mundial do Second Hand, celebrado em 25 de agosto para estimular as pessoas a comprarem de forma mais consciente.
No Brasil, esse consumo movimentou cerca de R$ 5 bilhões em 2023, com crescimento médio de 25% ao ano, segundo a plataforma Etiqueta Única. Globalmente, o segmento pode ultrapassar US$ 200 bilhões até 2026, de acordo com o ThredUp Resale Report 2023.
Um dos principais programas de reutilização no Brasil é o Repense Reuse, da Humana Brasil, que tem mais de 500 contêineres de coleta distribuídos em Pernambuco, Sergipe, Bahia e no Distrito Federal.
No Grande Recife, já foram implantados 70 pontos de arrecadação em ecopontos, centros comerciais e terminais integrados de ônibus. Desde março, a iniciativa recolheu cerca de 15 toneladas de roupas, calçados e acessórios.
Os produtos arrecadados passam por uma curadoria, são categorizados, classificados e higienizados antes de se tornarem produtos sustentáveis.
A próxima etapa do projeto na capital será a abertura de um centro de triagem no bairro da Imbiribeira, no Recife, que contará com 10 funcionários atuando na logística, produção e gestão.
Cláudia Andrade, executiva do projeto, diz que o impacto vai além da reciclagem. “Quando a gente escolhe reutilizar uma roupa em vez de descartá-la, está reduzindo emissões, economizando água e evitando que mais peças virem lixo. O impacto é real e imediato. Estamos dizendo sim à preservação do meio ambiente e à valorização de cada recurso e de cada pessoa envolvida na sua produção”, declarou.
Entre os benefícios do consumo de segunda mão estão o prolongamento do ciclo de vida das roupas, a economia de água e energia, a redução das emissões de CO2, além da geração de empregos e renda em projetos sociais.
Cláudia acredita que o reaproveitamento de roupa mostra que pequenos gestos podem ser responsáveis por grandes mudanças coletivas. “A sustentabilidade não está só no que compramos, mas em como escolhemos viver. Repensar, reutilizar e compartilhar são verbos que transformam”, afirmou.
Brechós impulsionam moda de segunda mão e ampliam consumo consciente
O mercado de brechós deixou de ser visto apenas como alternativa econômica e passou a ocupar espaço central no consumo consciente, reforçando a moda circular como uma alternativa ao impacto da indústria têxtil, considerada a segunda mais poluente do mundo.
O Brasil, por exemplo, gera aproximadamente 170 mil toneladas de resíduos têxteis por ano, com apenas 20% de reaproveitamento.
Segundo o Sebrae, o país soma hoje mais de 118 mil brechós ativos. O crescimento desse segmento é de 31% nos últimos cinco anos, demonstrando a consolidação dessa tendência.
Instalado há nove anos no bairro de Boa Viagem, no Recife, o Maghan Bazar é um dos exemplos desse crescimento. Criado por Renata Medeiros, o brechó oferece roupas em bom estado de conservação com foco em prolongar o ciclo de uso.
“Nosso propósito sempre foi dar nova vida às peças e fazer a roda da moda girar de forma mais consciente. Aquilo que não interessa mais para uma pessoa pode ser exatamente o que outra procura”, afirma a fundadora.
O público do bazar é formado principalmente por mulheres que buscam estilo a preços justos. O destaque são peças casuais para o dia a dia, mas também há opções de roupas de festa.
Para parte dos clientes, a motivação é ambiental, enquanto para outros, o atrativo é a possibilidade de adquirir marcas conhecidas por valores mais acessíveis.
“Nos dois casos, o resultado é positivo: prolongamos a vida útil das roupas e incentivamos a moda circular”, explica Renata.