Editorial JC: Crise é ponta de iceberg
Com prejuízos acumulando bilhões de reais durante todo o governo, a ECT é o maior exemplo do descontrole de gastos no terceiro mandato de Lula
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O alarme do descontrole fiscal nos governos petistas no Planalto costuma tocar sem causar espanto, muito menos alerta. Agora, o presidente Lula se depara com um enorme iceberg que desponta seu cume na situação crítica dos Correios.
Sem o aval necessário para contrair um empréstimo de R$ 20 bilhões, após mais de três anos de prejuízos seguidos, o governo federal cogita aportar diretamente o dinheiro para cobrir o rombo indisfarçável. Ou seja, será prejuízo em dobro para a população brasileira que paga essa conta: além dos bilhões no vermelho para manter a ECT, pode sair da União, cujos bolsos e contas são preenchidos com dinheiro público, a reserva para socorrer uma estatal que não entrega eficiência há vários anos.
A urgência para ser resolvida ainda este ano pelo governo federal é arrumar R$ 10 bilhões para evitar mais prejuízos e dar início à prometida reestruturação da empresa. O Orçamento da União, que não tem a ECT em suas planilhas, teria que aportar essa quantia num passe de mágica, desfalcando políticas públicas para salvar os Correios.
A mágica faz parte do modus operandi do atual governo federal: para cobrir o buraco de estatais não dependentes, como os Correios, Lula publicou um decreto permitindo o aporte de recursos diretamente da União, caso a estatal conte com um plano de reequilíbrio das contas. Ou seja, o cobertor curto tira de uma demanda, ou muitas, para aquecer e esconder a ponta do iceberg desvelado.
Sem a menor vontade de tocar na caixa de interesses dos Correios, o presidente Lula empurra com o mandato a solução cada vez mais inevitável da concessão dos serviços da ECT à iniciativa privada. Enquanto não decide, a defesa do patrimônio público dilapidado se torna cada vez mais ilógica. O déficit operacional e as dívidas agigantadas não vão sumir do horizonte com empréstimos de bilhões – na verdade, o endividamento aumenta.
A reestruturação possível e desejável nos Correios é um profundo enxugamento de sua rede de serviços, com oferta atraente para a iniciativa privada, de modo a garantir a abrangência para a população e a competitividade no mercado. A ECT não é mais competitiva há anos, afundando com ela a gestão federal e o dinheiro dos brasileiros.
Se de fato a injeção de dinheiro acontecer, pelo governo, a medida será desastrosa para as contas públicas, elevando o endividamento e comprometendo a tentativa de respeitar o arcabouço fiscal. Além de não resolver o problema, o aporte tem grande chance de realimentar a ineficiência, dando continuidade ao caos na gestão dos Correios, através de uma falsa operação de salvamento.
A crise na empresa, ao que tudo indica, será assunto da campanha eleitoral no ano que vem, e voltará em sua dimensão de iceberg em 2027, seja quem for a vitoriosa ou o vitorioso nas urnas para ocupar o Planalto até 2030.