Editorial | Notícia

Editorial JC: Intervencionismo é um erro

Depois dos bombardeios considerados criminosos a barcos longe da costa norte-americana, Trump ameaça retirar Maduro da presidência à força

Por JC Publicado em 03/12/2025 às 0:00 | Atualizado em 03/12/2025 às 8:36

Clique aqui e escute a matéria

Alegando a defesa do interesse nacional contra o tráfico de drogas, e apontando a mira para o ditador instalado no poder de um país empobrecido, de população sugada pelo regime, o presidente Donald Trump anunciou o fechamento do espaço aéreo da Venezuela, e segundo fontes da Casa Branca, teria dado um ultimato para Nicolás Maduro, o inimigo da vez, deixar o poder imediatamente em Caracas. O equívoco se repete, afrontando a ordem mundial e a soberania das nações, por piores que estejam as populações – e não é para salvar o povo local que mísseis e drones são acionados.

O roteiro não é novo, trazendo semelhanças com outras intervenções realizadas pelos EUA em passado não muito distante. No Afeganistão e no Iraque, o alvo era o terrorismo. Agora, são os narcotraficantes latino-americanos. Segundo Trump, qualquer país de onde saiam drogas para os Estados Unidos está sujeito a ataques militares pela Casa Branca.

O que abre um largo e indefinido leque de motivações. Ainda que Maduro seja um opressor dos venezuelanos, sucessor de Hugo Chávez no cargo, o intervencionismo, venha de onde vier, sempre é um risco – entre outras consequências, do cometimento de crimes contra o povo do lugar atacado ou invadido, que paga com a vida e a expulsão de seus lares, ou a privação de condições básicas enquanto a operação militar externa se desenrola.

Em 2025, além da conclusão da destruição de Gaza pelo governo israelense de Benjamin Netanyahu, e do aumento da tensão no conflito gerado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, Israel já bombardeou o Irã, com apoio dos EUA, em represália ao suposto desenvolvimento de armas nucleares pelos iranianos. Na Etiópia, uma guerra civil que dura anos e já matou centenas de milhares de pessoas também teve continuidade.

O mesmo acontece no Iêmen, que este ano sofreu ataque de Israel, e foi classificado pela ONU como o lugar em pior situação humanitária no planeta. Outra guerra civil ocorre em Mianmar, com 1,5 milhão de refugiados desde 2021. Na Síria, pelo mesmo motivo, já se contam quase 400 mil mortos e 200 mil desaparecidos. No Sudão do Sul, separado do Sudão em 2011, a guerra civil começou em 2013, deixando metade da população – um total de 12 milhões de habitantes – com fome.

A indústria global de armas e tecnologia de guerra lucra alto com todos esses distúrbios. E com o medo de países que temem entrar nessa contabilidade da morte. Por causa das ações de Vladimir Putin, da Rússia, e das medidas de Trump, a Europa tem reforçado seu orçamento de guerra, com os países investindo cada vez mais em defesa e pesquisa de novos armamentos.

É nesse contexto da economia bélica que o intervencionismo ensaiado por Trump na direção da Venezuela – ou de qualquer país, como ele mesmo afirmou – se apresenta como a reprise de um filme feio e triste para a humanidade. A esperança é que fique na ameaça, sem abrir tenebroso precedente para nova onda intervencionista na América Latina.

Compartilhe

Tags