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Editorial JC: Envelhecer no Brasil

Novos dados do IBGE confirmam a tendência de aumento da expectativa de vida, após a queda brusca em decorrência das mortes pela pandemia

Por JC Publicado em 29/11/2025 às 0:00 | Atualizado em 01/12/2025 às 7:14

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Avanços na saúde e mudanças no estilo de vida permitiram, nas últimas décadas, a relativamente rápida expansão da expectativa de idade máxima para a civilização humana, em todos os cantos da Terra. Inclusive nos países em desenvolvimento, e naqueles onde a desigualdade atrapalha, como obstáculo histórico, a obtenção e democratização de conquistas necessárias ao bem-estar coletivo.

É o que vemos acontecer no Brasil. Mesmo após a pandemia de Covid, entre os anos de 2020 e 2022, quando a expectativa de vida dos indivíduos baixou para menos de 73 anos em média no país, a tendência de crescimento retornou, alcançando pouco mais de 76 anos em 2024. No recorte por gênero, as mulheres podem viver em média até quase 80, e os homens, pouco mais de 73. A informação foi divulgada na última sexta-feira pelo IBGE.

Assim, a expectativa se aproxima de nações ricas, como o Japão e a Coreia do Sul, locais em que a esperança de vida ao nascer gira entre 84 e 85 anos. O salto para 76 anos de expectativa é grande, no Brasil, em comparação com meados do século passado. Em 1940, era de 45 anos a média, com os brasileiros que chegassem aos 60 podendo viver mais 13 anos.

Quem completou 60 no país em 2024 tinha a perspectiva de viver, em média, mais 22 anos. O envelhecimento populacional proporciona mudanças na forma de encarar o tempo, o corpo e a saúde, sendo bastante diferente a imagem - e o cotidiano - de quem era sexagenário no século passado, e quem atinge essa faixa etária atualmente.

Se o prolongamento da expectativa de vida causa benefícios evidente na fruição da existência humana, do ponto de vista da gestão pública os desafios aumentam. Especialmente onde a desigualdade impera, como aqui. A começar da garantia dos direitos essenciais, cuja não observância se torna ainda mais cruel na idade avançada. Em especial, na saúde e na assistência social que pode oferecer melhores condições para a saúde ser desfrutada, e a duração mais longa de vida poder ser aproveitada da melhor maneira.

A crise na previdência, vista em todos os países que passaram pela ampliação da expectativa de vida, lança para as gerações mais novas o dever de contribuir na proporção desse aumento do gasto com os mais velhos. É aqui que entra o que nem sempre se tem visto - a valorização do idoso e da idade avançada com a prática do devido respeito e admiração pelos que vivem mais anos, com histórias para contar, experiências a transmitir e um olhar privilegiado para compartilhar.

A diferença nas expectativas médias masculina e feminina, por sua vez, mostra a importância do estilo de vida que as mulheres exibem, com atenção adequada à prevenção na saúde, além de uma exposição menor a fatores de risco, como o exercício da violência, que a maioria das vezes tem os homens como protagonistas e vítimas - quando não transformam o traço violento em ostentação do machismo que redunda em feminicídio, risco frequente para as brasileiras.

 

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