Do machismo ao crime
Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, da ONU, chama atenção para a insegurança feminina, nesta terça-feira
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O número de feminicídios no Brasil é um desafio para as autoridades da segurança pública. As denúncias vêm aumentando em todo o país, mas as ocorrências não diminuem. E além dos casos mais frequentes, de assédio, brutalidade e assassinato por companheiros e ex-companheiros, as brasileiras também são expostas ao risco de abordagens criminosas por desconhecidos. Como o caso recente em Florianópolis, em que uma professora de inglês foi encontrada morta numa trilha de praia, depois de estuprada e estrangulada por um homem jovem que não a conhecia. Identificado por imagens de câmeras de monitoramento, o criminoso imediatamente confessou o crime. Ele pode estar envolvido no estupro de uma idosa, quatro anos atrás, segundo as investigações.
Três dias antes da catarinense ser morta, foi encontrado o corpo de uma mulher de 21 anos, na casa do ex-namorado, no Recife. Como o homem de Florianópolis, ele também se encontra preso. O cadáver estava escondido atrás de um armário, mutilado. Depois de quatro anos de relação, ela havia terminado com ele há pouco mais de um mês, após descobrir uma relação extraconjugal dele. De janeiro a outubro deste ano, foram registrados 71 feminicídios em Pernambuco, dez a mais que no mesmo período no ano passado. No Brasil inteiro, em 2024, foram registrados oficialmente quase 1.500 feminicídios, maior número desde 2015. A estatística demonstra que, apesar das campanhas, do reforço institucional através de medidas protetivas como a Lei Maria da Penha, e do crescimento das denúncias, a violência contra as mulheres não cede - e até aumenta.
Desde 1999, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a data de 25 de novembro como Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, em homenagem a três irmãs que foram torturadas e assassinadas, por ordem de um general, na Republicada Dominicana, em 1960. O objetivo é mobilizar a opinião pública e os governos em todo o mundo por iniciativas efetivas para barrar, sobretudo, as consequências do machismo que se traduzem em opressão e barbárie vitimizando as mulheres.
Mais de 60% das mulheres assassinadas por homens no Brasil são negras, e mais de 80% atravessam um penoso caminho de violência até o desfecho mortal em ambiente doméstico, mortas por quem deveria protegê-las, garantindo-lhes liberdade, pois amar é não possuir. O relacionamento amoroso que redunda em feminicídio, antes já dá sinais do descontrole machista, deixando de ser relação de amor para se transformar em ligação tóxica envolta em tensão, medo e violência.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma a cada três mulheres já sofreu violência sexual por homens, e o índice de agressões de toda ordem não é reduzido há pelo menos duas décadas. A data estabelecida pelas Nações Unidas, nesta terça, é um lembrete para um mal coletivo persistente que demanda coragem das mulheres, punição para os homens criminosos e cada vez mais conscientização social, para que o silêncio não naturalize o machismo que, em um passo, vira crime.