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Editorial JC: Crise como legado

Situação deficitária nos Correios durante todo o governo Lula faz estimativa do rombo nas contas públicas se aproximar de R$ 31 bilhões este ano

Por JC Publicado em 24/11/2025 às 0:00 | Atualizado em 24/11/2025 às 7:09

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O déficit maior que o previsto nas empresas públicas, puxado pelo descontrole orçamentário dos Correios há três anos seguidos – portanto, com piora no governo Lula – faz com que o desempenho das contas nacionais chegue perto do limite da meta fiscal em 2025: quase R$ 31 bilhões no vermelho. E poderia ser pior, se o Executivo não fizesse um contingenciamento de R$ 7,7 bilhões. Somente os Correios respondem por um buraco de quase R$ 6 bilhões este ano, a maior parte no primeiro semestre, elevando o total do déficit das estatais para R$ 9,2 bilhões.

Para tentar superar a longa fase de 12 trimestres de prejuízos consecutivos, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos anunciou esta semana a aprovação de um empréstimo de R$ 20 bilhões, que faz parte do plano de reestruturação da gestão.

Além da recuperação financeira, o plano sem fundamenta nos eixos de consolidação do modelo de operação, e de crescimento estratégico da atuação no mercado. Como não dá para tapar o sol da crise com uma peneira, a estatal mais problemática do governo Lula pretende tomar medidas de racionalização, como um programa de demissão voluntária e redução de custos com planos de saúde, e eliminação de até mil pontos de atendimento ao público.

Ao lado dessas providências – com muitos trimestres de atraso – os Correios vislumbram ampliar a competitividade, modernizando a operação dos serviços e melhorando a infraestrutura tecnológica, comercializando imóveis e passando a atuar no comércio eletrônico. Os conselheiros da estatal aprovaram as medidas, que já haviam sido anunciadas pelo presidente Emmanoel Rondon, cerca de um mês atrás. Seja na contenção de custos, seja no movimento em direção à agilidade e tecnologia, nada do que foi exposto precisava ter esperado tanto. A demora penaliza o país, que agora arca com o rombo de bilhões com a naturalidade de um governo que não vê problema na conta imensa deixada como legado, para o próximo governo e para todos os brasileiros.

É na permanência da conta que não fecha, em um mercado acirrado no setor de logística, sem que o governo federal demonstre interesse ou saúde financeira para o aporte de recursos necessários à modernização, que o tema da privatização não sai de cena. O discurso populista e ideológico não se sustenta pelos números que afundaram os Correios numa crise inédita, transformando o patrimônio coletivo em dívida coletiva.

Na perspectiva da economia e do benefício da população, a gestão pública da ECT é uma insistência ilógica, para a qual três anos de prejuízos ininterruptos deveriam ser motivo suficiente para mudar o rumo. A concessão à iniciativa privada pode ser a única alternativa, sobretudo quando um governo que não se importa com o tamanho do Estado e das contas públicas não consegue fazer nada para aliviar a crise. Ao contrário, piora o que recebeu do governo anterior, e deve passar ainda pior para o próximo.

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