Mais decepção que esperança
Com última sessão tumultuada pelas críticas e texto final sem a cobrança de compromissos, evento no Brasil celebra pequenas compensações
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Sem sequer mencionar, nos textos de conclusão, a causa principal da elevação da temperatura média global que provoca as mudanças climáticas – o uso de combustíveis fósseis, propulsores da energia suja que lança poluentes na atmosfera – foi encerrada no sábado a COP30, conferência das Nações Unidas, em Belém do Pará. Marcada pela ausência de líderes importantes – dos Estados Unidos, da China e da Índia – e pelo peso econômico evidente da indústria do petróleo, o evento carrega para a história um incidente de pequena escala que gerou incêndio no pavilhão e atraso nas negociações. Mas as negociações já não eram promissoras, como ficou demonstrado na plenária final, interrompida por desavenças, mal-entendidos e objeções.
Alguns países, em especial a Colômbia, faziam questão de incluir em pelo menos um dos textos, após os dias de debates, acordos e desacordos, a explicitação à “transição para longe dos combustíveis fósseis” através do tão falado “mapa do caminho”. Um mapa que não seria mais que uma disposição que poderia ser fortalecida no futuro. O caminho mapeado da transição, de certa forma, substitui as metas solenemente descumpridas desde o Acordo de Paris, em 2015. Uma década mais tarde, os dilemas são os mesmos, e os obstáculos para a transição energética no ritmo desejado por cientistas e ambientalistas, parecem até maiores no impasse visto em Belém, com a floresta Amazônica ao fundo.
O documento principal chegou a ser classificado como retrocesso por analistas, em comparação a conferências anteriores, pela omissão do termo “fóssil”. Algo que os países liderados pela Arábia Saudita, por outro lado, devem celebrar como avanço, empurrando a transição energética para longe. Mas o encontro no Brasil não é tido como fracasso total. Compensações aparecem na participação inédita das comunidades indígenas, nos recursos prometidos para um fundo de preservação florestal, e na perspectiva de aumento da meta de financiamento global anual para o combate da crise do clima nos países pobres. Pequenas compensações, na verdade, diante a dimensão avassaladora das mudanças climáticas, caso nada ou muito pouco venha a ser feito para reverter a febre da Terra.
O presidente da COP, André Corrêa do Lago, tentou diminuir a decepção geral em uma fala de esperança nos próximos passos. “Sei que todos estão cansados. Sabemos que muitos de vocês tinham mais ambição para alguns temas e que a sociedade vai exigir mais. Eu prometo que vou tentar não desapontar vocês. Nós precisamos de mapas para que possamos ultrapassar a dependência dos fósseis de forma ordenada e justa. Eu vou criar dois mapas: um para reverter desmatamento e um para fazer a transição para longe dos fósseis”, disse, se referindo aos meses de preparação para a COP31, na Turquia, no ano que vem.
Mais um evento ambiental da ONU termina em desapontamento. A COP brasileira, que se disse a da verdade, revela uma verdade dura: falta vontade política e viabilidade econômica para mudar o caminho da civilização erguida pelos combustíveis fósseis.