Eleitorado quer segurança
Pesquisa mostra que a preocupação com a segurança pode fazer parte da população definir o voto nas próximas eleições, no ano que vem
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A violenta operação policial no Rio de Janeiro, que matou mais de 120 pessoas, teve repercussões políticas detectadas pelos institutos de pesquisa. E nas reações da população veiculadas na imprensa. As duas principais consequências foram a consolidação do tema da segurança pública como a maior preocupação dos brasileiros, e o freio na ascensão de popularidade que o presidente Lula vinha experimentando, desde que o tarifaço de Donald Trump deu de presente ao petista um mote de campanha tão populista quanto o rompante arrecadador de seu colega norte-americano.
Vale dizer que a maioria dos cidadãos – inclusive do Rio de Janeiro – aprovou a investida, apesar da letalidade recorde na história recente do país. A percepção popular enxergou no uso da força máxima do Estado uma alternativa necessária, ainda mais em territórios dominados pelo crime organizado, onde as armas apreendidas demonstram o grau de domínio a que os moradores estão submetidos. De acordo com a Genial/Quaest, a aprovação do governo Lula recuou e a reprovação aumentou, em ambas medidas na margem de erro, mas interrompendo trajetória ascendendo nos últimos meses. Os números refletem muito levemente a reprovação maciça da declaração infeliz de Lula, que chamou os traficantes de vítimas dos usuários de drogas.
Para o diretor de inteligência da Quaest, Guilherme Russo, em entrevista à Rádio Jornal, a percepção coletiva da insegurança aumentou no Brasil, de modo geral, embora haja indicadores de melhoria da segurança em alguns estados. O principal problema do país continua sendo a segurança, ou a falta dela, para 38% dos entrevistados – na pesquisa anterior, o percentual era de 30%. Segundo Russo, trata-se de “um tema muito complicado para os governos, especialmente de esquerda, porque a população tem preferências de leis mais rígidas, e isso muda um pouco do humor da população em relação ao governo”. O que o diretor da Quaest chama de humor, podemos vislumbrar como disposição para o voto nas eleições do ano que vem, quando a escolha será para o Palácio do Planalto, governos estaduais, o Congresso e assembleias legislativas.
E por falar nos parlamentos, a atenção para o tema também deve crescer nos próximos meses, em especial no início do ano legislativo de 2026, por causa da relevância da segurança para o eleitorado. A designação das facções como terroristas é aprovada por mais de dois terços da população brasileira, enquanto o governo federal é contra. Sem a garantia da tranquilidade para ir e vir, e às vezes para estar na própria casa, os brasileiros desejam leis mais rígidas, e aplaudem a presença policial nas ruas – como podemos ver no Recife, depois que o efetivo da Polícia Militar foi aumentado e passou a circular mais na capital.
O recurso extremo da violência para combater a violência e assegurar, ou devolver, um pouco de sensação de segurança às pessoas nas comunidades, nos bairros, em qualquer área das cidades, não é o melhor caminho. Mas a aprovação popular da matança no Rio mostra a que ponto se chegou no descontrole que favorece a criminalidade, no Brasil.