O mundo no Brasil, de novo
A exemplo da ECO em 1992, no Rio de Janeiro, desta vez Belém recebe delegações de vários países para redefinir as metas ambientais da humanidade
Clique aqui e escute a matéria
Mais de três décadas atrás, o Rio de Janeiro foi o palco de um encontro das Nações Unidas para o meio ambiente, a ECO-92. Com a presença de delegações de vários países, o evento trouxe para o Brasil a esperança da população mundial na construção de hábitos sustentáveis para a civilização. Daqui a poucos dias, será a vez de Belém sediar outro evento importante de âmbito global: a COP30, conferência que contará com dezenas de líderes internacionais e, como no Rio em 1992, concentrará a atenção do mundo no Brasil, de novo. Desta vez, a respeito da revisão das metas climáticas com o objetivo de reduzir a escalada da temperatura média da Terra, que já vem gerando alterações nos ciclos naturais e causando fenômenos extremos como enxurradas, secas e furacões.
De quase duzentas nações que assinaram o Acordo de Paris, na COP21, em 2015, há uma década, pouco mais de 60 revisaram as metas para o encontro em Belém, que começa na próxima quinta. Enquanto se projetam os danos das mudanças climáticas para a humanidade nas próximas décadas, o clima político não parece propício a expectativas otimistas para a COP30, apesar dos discursos de tom ufanista e até presunçoso do governo brasileiro. Organizar um evento desse porte não é garantir que o país será o lugar de atração do bom senso e das soluções que todos irão compreender, acatar e aplicar. A distância entre o que se deseja e o que se pode obter no Pará vem se alargando nos últimos meses. A saída dos Estados Unidos, sob a ordem de Donald Trump, das negociações ambientais, e o atraso das metas de vários signatários do Acordo de Paris, esfriaram os ânimos dos participantes.
Com reuniões de cúpula esta semana, e a conferência oficial a partir do dia 10, até 21 de novembro, cerca de 50 mil pessoas devem estar em Belém para a COP30. Além do afastamento gradual das metas de controle de emissão de gases poluentes, o evento deve refletir um certo desconforto em relação à aprovação do governo Lula para a exploração de petróleo na Margem Equatorial da Amazônia. As críticas vieram logo, de entidades nacionais e internacionais, segundo as quais o Brasil peca por incoerência, ao se apresentar como protagonista da sustentabilidade enquanto abre amplo horizonte de exploração petrolífera.
Sob o mantra da transição energética justa, o governo Lula em geral e a ministra Marina Silva, em particular, devem tentar desviar o foco das discussões para a responsabilidade dos países desenvolvidos na definição e perseguição de metas ambientais. O que significa apontar um notório fracasso, desde antes do Acordo de Paris, e que tem tudo para se prolongar depois da COP30. Do ponto de vista dos paraenses, a oportunidade para expor Belém e a cultural local para o planeta pode render interessante vitrine para o turismo, nos próximos anos. Mas na perspectiva dos acordos multilaterais cada vez mais problemáticos, a contagem regressiva para os efeitos do aumento da temperatura pode se acelerar, acompanhada pela frustração e desespero dos ambientalistas.