Editorial | Notícia

Mortos e ruínas em Gaza

Fim do conflito de mais de dois anos é confirmado com a troca de prisioneiros e reféns – e a volta dos palestinos para suas casas em escombros

Por JC Publicado em 14/10/2025 às 0:00

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Depois do desespero que parecia sem fim, a celebração da paz – ou de uma pausa duradoura no conflito histórico – une em satisfação os povos israelense e palestino. O grupo terrorista Hamas, que iniciou este longo e sangrento confronto num dia de barbárie e matança, libertou os reféns sobreviventes, e entregou os corpos dos que não resistiram à guerra. E o governo de Israel fez voltar ao território palestino uma grande quantidade de presos. Embora o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, continue reticente e ambíguo em suas declarações, insistindo na entrega das armas pelo Hamas, é o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que insiste na afirmação de que a guerra acabou.
Trump esteve em Israel e no Egito, onde se reuniu com outros líderes do Oriente Médio para repetir a validade do acordo de paz, e dar início à conversa a respeito de uma questão urgente: a reconstrução de Gaza. Não somente dos prédios e locais públicos destruídos pelas tropas e bombas israelenses. Será também preciso reconstruir a identidade palestina com a terra arrasada, de alguma maneira que se deixe para trás a crueldade dos ataques que unificaram terroristas e a população num mesmo alvo. E ainda, organizar a gestão pública e a organização social desmanteladas pelo Hamas e aniquiladas por Netanyahu.
O alívio é semelhante, mas o festejo nas ruas de Jerusalém destoa do retorno dos palestinos às ruínas onde um dia viveram. A incerteza sobre o futuro próximo traz o medo de que nada mude, sobretudo para os palestinos que não têm para onde ir. Apesar do envolvimento de países árabes, da Europa e dos EUA num acordo de paz, a confiança no Hamas e em Netanyahu está longe de ser garantida. A obstinação do premiê israelense em aniquilar o grupo terrorista, sem se importar com a matança de cidadãos palestinos no caminho, assim como a desconexão do Hamas com qualquer princípio de razoabilidade – pois é do terror que o grupo se sustenta – são fatores de instabilidade persistente.
O Hamas tem sido motivo suficiente para o governo israelense tratar os palestinos como inimigos. Para a vigência de paz duradoura, tanto os palestinos precisam se livrar do Hamas, quanto os israelenses adotarem outra postura em relação aos palestinos. A convivência é a única alternativa entre os povos. A reconstrução de Gaza deve incluir uma espécie de reocupação cuja natureza não está definida, mas supõe a tutela de uma população sobrevivente em meio a vidas bombardeadas. Qual a realidade encontrada pelos palestinos? Qual o presente e o futuro desejado pelos israelenses?
Do lado de dentro da nação invadida e assustada pelo terror, Israel se depara com escolhas coletivas que implicam no destino político de Netanyahu. Acusado por grande parte dos governos e da população do mundo, figura polêmica entre os israelenses, o primeiro-ministro estava seguro em seu posto enquanto havia um alvo em Gaza para derrubar. Com o foco de volta a um cenário ainda de atenção, mas sem reféns para salvar, outra dúvida no ar é como o povo que representa irá olhar para esses dois anos de violência de Estado, sob as ordens de Netanyahu.

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