Editorial | Notícia

Janela para algum futuro

Proposta norte-americana de fim do conflito entre Israel e o Hamas parece contar com chance de ser posta em prática, abrindo caminho ao diálogo

Por JC Publicado em 05/10/2025 às 0:00

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O rastro da destruição e das mortes é longo e parece interminável. Depois dos atentados e sequestros promovidos pelo grupo terrorista Hamas em solo israelense, motivando um dos piores massacres executados – ainda em curso – de palestinos na história contemporânea, a título de revide comandado pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, as ruínas da Faixa de Gaza viraram cenário de horror. A miséria e a fome da população cercada por armas, tanques e drones não irão mudar, segundo Netanyahu, enquanto o trabalho completo das forças israelenses não tiver sido cumprido.
A aniquilação do Hamas e o resgate dos reféns podem ser inferidos como o trabalho completo, mas o ímpeto da destruição sinaliza para objetivos que vão além da caça ao terrorismo. No âmbito das Nações Unidas, diversos países reconhecem o Estado da Palestina, que Israel não apenas nega com veemência, como reafirma a negativa através da força bélica que dizima a vida dos palestinos. Se depender do governo israelense, o diálogo na direção da solução de dois Estados é uma alternativa inaceitável.
Daí a importância de mediadores e interlocutores de fora do conflito, com o intuito de arrefecer ânimos, traduzir o horror do mundo diante do que se passa em Gaza, e buscar o entendimento inicial para suspender a violência e retomar alguma chance para a paz. A proposta anunciada por Donald Trump há poucos dias talvez abra uma janela para consequente negociação, desde que as partes considerem fazer concessões. De acordo com as primeiras repercussões, o Hamas teria aceitado entregar os reféns ainda em seu poder. De pronto, Trump escreveu um post confiando na disposição dos terroristas a uma “paz duradoura”, e aproveitando para solicitar de Israel um imediato cessar-fogo – algo que já foi solicitado pelo próprio presidente norte-americano antes, bem como por outros líderes mundiais. Em resposta, Netanyahu, apenas disse aguardar o retorno de todos os cerca de quarenta reféns remanescentes nos próximos dias.
O plano da Casa Branca exclui o Hamas de um futuro governo em Gaza, mas seus membros poderão ser anistiados se entregarem as armas. O que dificilmente seria aceito por Netanyahu, mas é uma oferta que os terroristas devem considerar, sob cerco e bombas há tanto tempo. Esse futuro governo seria formado por palestinos e pessoas de fora do país, sob a coordenação de Donald Trump. A participação israelense não é mencionada.
Apesar da janela para um desfecho tão esperado, o não atendimento pelo Hamas das condições propostas pode significar um avanço ainda maior da violência da parte de Israel, sob a chancela de Trump. O rastro de sangue e dor pode estar com os dias contados, com ou sem acordo para a paz. Resta saber qual será o futuro dos palestinos sobreviventes, e como a comunidade internacional irá se portar para que a estabilidade volte a reinar no Oriente Médio.

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