Editorial JC: A música da esperança
Uma turnê de concertos pela paz com jovens músicos tocando na Ásia e no Vaticano tem a participação da Orquestra Criança Cidadã, de Pernambuco

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Para o fundador da Orquestra Criança Cidadã, José Targino, "a paz não é utopia — ela pode ser ensaiada, tocada, sentida e vivida". Com essa convicção, jovens pernambucanos se unem a outros de países em conflitos - de Israel, da Ucrânia, da Rússia, das Coreias do Sul e do Norte - para uma turnê criada para levar a mensagem da paz e da convivência entre os povos, através da arte musical.
Onze músicos com idades de 16 a 22 anos partiram do Recife, esta semana, para uma jornada de sensibilização contra os horrores das guerras e a necessidade da pacificação no mundo.
A proposta de desafiar "o barulho da guerra com o som da convivência fraternal e da harmonia" para mostrar "que todos somos irmãos", como explica Targino, sai do plano da utopia quando se transforma em melodia em variados palcos de um planeta ameaçado pela intolerância que resulta em bombas, destruição e mortes.
Uma proposta singela e, por isso, corajosa: apresentar o óbvio para pessoas com medo de estilhaços que parecem distantes, por exemplo, no Brasil, mas que fazem parte do cotidiano da população global interligada por redes em tempo real. A informação onipresente suprimiu as distâncias, mas a desinformação continua afastando as pessoas, atiçando radicalismos e proporcionando más escolhas por líderes inconsequentes.
De acordo com José Renato Accioly, coordenador artístico do projeto e maestro titular da Orquestra Sinfônica Jovem, os concertos pela paz estão se expandindo. Podemos complementar, atravessando fronteiras e preconceitos, ao oferecer a doçura das sinfonias em contraponto ao amargor das guerras dilacerantes e incompreensíveis.
A linguagem universal da música dissemina a mesma compreensão para todos, de qualquer idade, mas tem ainda maior valor por ser tocada por uma nova geração que não abdica do direito de sonhar com um presente e um futuro melhores, sem distinção de nacionalidade.
A nova turnê dá sequência a outra realizada em 2023, quando a Orquestra Criança Cidadã se juntou com músicos da Rússia e da Ucrânia em performance para o Papa Francisco. Agora, a viagem está marcada para se encerrar novamente no Vaticano, para os olhos e ouvidos do Papa Leão XIV, depois de passar pela Coreia do Sul e o Japão.
O sucessor de Francisco, aliás, assumiu o pontificado num dos mais tenebrosos períodos da humanidade, afirmando que não podemos nos acostumar com a guerra - que será sempre uma derrota, segundo sua expressão, repetindo palavras de Francisco.
Para que não nos acostumemos com a derrota das guerras, uma derrota da humanidade e do humanismo, o som de uma orquestra entoando a lembrança da paz pode ser o prenúncio de esperada vitória, a superação da cacofonia bélica por exércitos de cordas, sopros e teclas.