Despolarização política
Pesquisa revela desgaste do embate polarizado dominante nas últimas eleições, o que demanda renovação de lideranças e valorização da diversidade

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O cansaço está no ar. A política se dobra sobre si mesma, dando a sensação, para a população, de que nada sai do lugar diante da vontade inesgotável do poder pelo poder. Claques diminuem o entusiasmo, em resposta a evidências de comprometimento dos ungidos pelo vício da vaidade e do interesse próprio. Os principais líderes nacionais envelhecem, politicamente falando, sem a formação de sucessores para a liderança que exercem cada vez menos. A disputa escancarada pelo poder parece habitar os três poderes, levando o Executivo, o Legislativo e também o Judiciário a promoverem embates improdutivos e duelos risíveis que se descolam das demandas coletivas – sempre insuperáveis e adiáveis por causa da crise do dia.
Desponta com clareza no Brasil de 2025, mirando 2026, a necessidade da descoberta de representantes e líderes que se apresentem contra a polarização ainda vigente, embora enfraquecida. Políticos e personalidades que se disponham ao árduo trabalho político, identificados com o centro que se traduz em bem senso e equilíbrio, sem ligação com os extremos, nem encostado no adesismo e no casuísmo na relação com qualquer governo. Honestidade, coerência, empatia e sensibilidade são qualidades esperadas para substituir os traços extremos do radicalismo, da ambiguidade, do ódio e da insensibilidade, que costumam estar associados ao exercício da política em polos que se atraem e se aproximam tanto quanto se rejeitam e se distanciam.
A pesquisa Quaest divulgada há poucos dias estampa a fadiga que chega à superfície da opinião declarada pelos entrevistados. É de se supor uma fadiga muito maior, subnotificada, por assim dizer, não manifesta enquanto as eleições não se concretizam. Mais da metade dos entrevistados declarou não desejar votar nem num, nem no outro, dos dois candidatos que expressam os polos, repartidos simplisticamente em governo e oposição. Desse modo, a repetição da configuração do pleito passado pode não ser tão óbvia, mesmo com a mera troca de Jair Bolsonaro, impedido de se candidatar, por outro que o mimetize na disputa contra a reeleição de Lula.
“É um recado claro: se em 2026 o jogo for novamente reduzido a essa disputa binária, o eleitor entra contrariado para escolher o que for menos pior”, escreveu o colunista do JC, Igor Maciel. “O cansaço dos eleitores começa a ser traduzido em necessidade de começar a acelerar para o próximo capítulo do Brasil. Um país liberto do maniqueísmo barato desses últimos anos que sustentou e sustenta petistas, lulistas e bolsonaristas”, vislumbra Maciel.
A polarização persistente vem corroendo a capacidade de construção de novos horizontes para a população, através da formação de consensos. A estagnação do desenvolvimento é paralela à desconstrução contínua de governos que se sucedem olhando para trás, ao invés de pensarem e cooperaram com o futuro da nação. A despolarização política brasileira deveria entrar na pauta de urgências dos partidos e da sociedade inteira.