Editorial | Notícia

A fome como arma de guerra

Entidade ligada à ONU declara oficialmente a fome de mais de meio milhão de palestinos, efeito cruel da caça aos terroristas do Hamas por Israel

Por JC Publicado em 23/08/2025 às 0:00

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Como se não bastassem as imagens que circulam há meses, os testemunhos diretos do território arrasado transformado em prisão, e a condenação oficial de diversos líderes mundiais, um órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU) declarou a condição de fome para mais de 500 mil pessoas na Cidade de Gaza, com tendência de alastramento a outras áreas sob o fogo e o cerco dos israelenses e do grupo terrorista Hamas, que controla o território palestino e é perseguido pelo governo de Israel, após ataque que matou e sequestrou cidadãos israelenses e de outros países. De acordo com o relatório do Integrated Food Security Phase Classification (IPC), os palestinos famintos estão sob alto risco de miséria e morte, além da constatada insegurança alimentar.
O texto divulgado afirma que a crise em Gaza é “totalmente provocada pelo homem” e pode ser revertida caso haja acesso amplo e imediato à ajuda humanitária. A repetição do que parecem obviedades é necessária, diante da obstinação do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que provoca o sofrimento em massa, e enfrenta críticas mesmo entre a população israelense, que deseja o fim dos ataques para a negociação pelo retorno dos reféns. Diante da nova análise, que pela primeira vez aponta a fome como um fato consumado em Gaza, o secretário-geral da ONU, António Guterres, também repetiu o tom veemente que vem adotando há algum tempo, reafirmando que o cenário encontrado representa "um desastre provocado pelo homem, uma acusação moral e um fracasso da própria humanidade".
Guterres aproveita o documento para cobrar a responsabilidade do governo Netanyahu perante o direito internacional, solicitando urgência pelo grau da calamidade a olhos vistos: “Não podemos permitir que isso continue impunemente. O tempo de agir é agora”, reforçou. Outra voz das Nações Unidas, Tom Fletcher, que coordena emergências humanitárias, disse por sua vez que a catástrofe que se prolonga em Gaza deveria envergonhar o mundo. Até envergonha. Mas o que a população mundial pode fazer, além de pressionar seus líderes a pressionarem ainda mais o primeiro-ministro israelense? Infelizmente, a própria ONU demonstra pouca efetividade nas ações, apesar das críticas duras feitas a Israel, que igualmente encontram eco, mas pouca consequência, nos governos da Europa e demais membros das Nações Unidas.
Entidades reconhecidas como a organização Médicos Sem Fronteiras ratificam a dimensão do drama. O pior é que a fome é apenas a ponta do iceberg da calamidade entre os palestinos. A desnutrição se mistura ao confinamento, às doenças e às condições precárias de vida, por exemplo, sem água e saneamento, por causa dos bombardeios incessantes que deixaram as cidades em ruínas. O ideal seria que o cessar-fogo acontecesse imediatamente, com liberação de acesso à ajuda humanitária e o estabelecimento de centros de tratamento para a população que morre aos poucos, de maneira crescente, de fome – da fome utilizada como arma de guerra.

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