Pressão sobre Israel
Anúncio da intenção de controle total do território e continuação dos bombardeios provocam repercussão negativa e mais clamores pelo cessar-fogo

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Desde a reação justificada contra os ataques e sequestros em solo israelense, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não esconde o objetivo de aniquilar o grupo terrorista Hamas, ao mesmo tempo em que visa recuperar os cidadãos de seu país e de outros países, levados para a Faixa de Gaza e mantidos em cativeiro como trunfos para negociação. Apesar de não confirmar a pretensão de transformar Gaza em área sob o controle permanente de Israel, o primeiro-ministro vem repetindo, nos últimos dias, que a estratégia para o resgate dos reféns e o fim do Hamas é, de fato, a ocupação completa do solo dos palestinos – e o que resta de algo parecido com uma pequena nação em ruínas, com sobreviventes famintos correndo de bombas e balas todos os dias, num cotidiano massacrante que se encaminha para o segundo ano.
A declaração, feita por Netanyahu, de que os recentes ataques refletem o desejo de terminar com a guerra o mais rápido possível, não foi bem recebida pela comunidade internacional, dos países árabes aos europeus, mais próximos da zona infestada de sangue e mortes. Para o presidente francês, Emmanuel Macron, as ações dos israelenses podem gerar “um desastre de gravidade sem precedentes” enquanto as ofensivas se dirigem a “uma guerra sem fim”. Até o Reino Unido e a Alemanha, tradicionais aliados de Israel, pediram publicamente a reconsideração da decisão de intensificar os ataques, diante das cenas de colapso humanitário que rodam o planeta há várias semanas. Os alemães chegaram a ir mais longe: suspenderam o envio de armamentos e equipamentos militares utilizados contra Gaza.
O assassinato, pelo Hamas, de 1.200 israelenses, e o sequestro de outras 251 pessoas, em outubro de 2023, foi o estopim para o que talvez seja o mais sangrento conflito na região. Sob os escombros de Gaza, estima-se que pelo menos 60 mil palestinos tenham sido mortos por Israel, até agora. Após repetidos alertas e condenações a Israel, as Nações Unidas voltaram a ser mencionadas como a instituição capaz de liderar uma coalização de paz em Gaza – como já ocorreu antes, em diversos países em conflito, que contaram com a experiência diplomática da ONU para se reequilibrar.
O agravamento da fome sem ajuda humanitária regular impele a opinião pública mundial – e até dentro de Israel – contra a insistência e a inclemência de Netanyahu. Por outro lado, com o apoio de Donald Trump, o premiê israelense segue sustentando o argumento de que a guerra contra o Hamas é necessária para impedir o retorno do terror à fronteira com os palestinos. A ideia de um cessar-fogo pleno pode jamais ter passado pelos planos de Netanyahu, mas as imagens do sofrimento palestino – que não pode ser confundido com a crueldade do Hamas, assim como o povo israelense não se confunde com seu governo – são muito pesadas para serem ignoradas. A tendência é que a pressão sobre Israel aumente, enquanto a questão da fome em Gaza não for tratada com seriedade.