Editorial JC: Uma ameaça de 80 anos
Os históricos bombardeios atômicos dos EUA ao Japão fazem aniversário, sem que o medo e as políticas de guerra deixem as populações do mundo em paz

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Há mais razões para o ceticismo do que para a esperança, exatamente oito décadas depois dos terríveis, covardes ataques nucleares dos Estados Unidos ao Japão, durante a Segunda Guerra Mundial.
Hiroshima e Nagasaki continuam a ser as duas únicas cidades no planeta bombardeadas com o artefato atômico, e o pacifismo exemplar e resiliente dos japoneses permanece inspirador, em uma civilização conturbada pelo ódio, pelo terror e por líderes mais propensos ao uso da força e da violência do que às negociações e buscas de alternativas para os conflitos.
Num momento de desarrumação do mapa econômico e geopolítico, de desrespeito a acordos internacionais e, para piorar, de altos investimentos e uso abusivo de armamentos, os arsenais nucleares voltam a assustar a humanidade. O espectro da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, agora concentrada na Rússia de Vladimir Putin, retorna como uma ameaça real.
O ímpeto beligerante e de provocação mútua que domina a Casa Branca e o Kremlin, além dos territórios devastados na Ucrânia e em Gaza, pelos russos e israelenses, trazem perspectivas sombrias para o uso cada vez mais arriscado das tecnologias da morte e do sofrimento. O Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares virou quase uma lenda, no cenário de descontrole e império da brutalidade.
Sobrevivente do bombardeio de Nagasaki, Masako Wada não escondeu o pessimismo diante do que vemos na atualidade, na cerimônia que marcou a data histórica, esta semana. “Devido à sua insinceridade e arrogância, toda a raça humana está à beira de uma guerra nuclear. No mundo instável de hoje, o risco do uso de armas nucleares é o maior desde o fim da Guerra Fria”, lamentou.
“Se armas nucleares forem usadas pela terceira vez, não haverá mais ninguém vivo para observar o efeito e as consequências”, ela disse, numa visão compartilhada por muitos analistas desde os bombardeios ao Japão no século passado.
Os ataques se deram nos dias 6 e 9 de agosto de 1945. Milhares de pessoas foram mortas, pelo impacto das bombas, e pela radiação que contaminou extensos raios urbanos.
Estima-se que mais de 100 mil habitantes das duas cidades foram vítimas fatais dos bombardeios. Muitos sobreviventes carregaram pelo resto de suas vidas o trauma, quando não levaram também o câncer, deformidades físicas e queimaduras.
A imagem do cogumelo atômico se transformou no símbolo apocalíptico por excelência, e uma espécie de alerta para a potência de autodestruição humana. No ano seguinte, em 1946, o Japão tinha uma nova Constituição, na qual o povo e seus líderes se comprometeram a não participar mais de guerras – jamais.
É uma pena que, ao invés da paz japonesa, a insensatez norte-americana é que prevaleça no mundo sempre à beira da aniquilação nuclear.
Confira a charge do JC desta quinta-feira (7)