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Editorial JC: Alívio no disparate

Exceção de produtos cruciais na balança comercial do Brasil e dos Estados Unidos traz algum alívio para o tarifaço – mas o disparate continua

Por JC Publicado em 31/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 31/07/2025 às 6:50

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A oficialização da taxação de 50% para importação de produtos brasileiros pelos Estados Unidos a partir de 6 de agosto, confirmada em ato formal pelo presidente Donald Trump, foi atenuada, na perspectiva econômica, pela salvaguarda de setores importantes na relação comercial entre os dois países.

A pressão dos empresários, sobretudo entre os norte-americanos, parece ter surtido efeito em nome do bom senso residual na Casa Branca.

Entretanto, apesar do alívio relativo, que preserva fatia relevante dos negócios do Brasil com os EUA, a justificativa para a medida, criticada inclusive pelos norte-americanos, continua sendo um disparate baseado em radicalismo político solidário ao ex-presidente Jair Bolsonaro, bem como em alegações genéricas difíceis de serem comprovadas, como uma suposta “ameaça incomum e extraordinária” aos interesses da potência que impõe o tarifaço.

A recorrente abstração da segurança nacional foi mencionada como estando sob risco das práticas comerciais brasileiras!

Uma lei de 1977 chegou a ser citada como base legal da estapafúrdia medida, que choca o mundo pela politização das relações econômicas, tanto quanto pela intromissão política – através da economia – nos assuntos jurídicos brasileiros, especificamente, os processos no Supremo Tribunal Federal (STF) que analisam a depredação da Praça dos Três Poderes, em Brasília, meses após a derrota de Bolsonaro na eleição presidencial – derrota que, assim como Trump quando perdeu para Biden, Bolsonaro não admitia.

Apesar de utilizar a mesma linguagem dos detratores da democracia e da independência dos poderes no Brasil, e intensificar as denúncias contra o STF e o juiz Alexandre de Moraes, Trump amenizou o tarifaço, deixando de fora do “castigo” o suco de laranja, as castanhas, a indústria aeronáutica, os derivados de carvão e petróleo, os minérios, a madeira e a celulose, equipamentos de áudio e vídeo, luminárias LED, livros, filmes e obras de arte, entre outros.

Certamente pesou nesse abrandamento o perfil de consumo dos norte-americanos e os impactos que o sumiço ou a drástica redução desses produtos iria causa por lá. Mas continuam com a taxação máxima o café e as carnes bovina e suína, o que terá efeitos severos no mercado brasileiro.

As negociações continuam após o anúncio de ratificação, que insiste na condenação política das instituições do Brasil, por não reconhecimento de sua legitimidade – como se aos EUA coubesse qualquer tipo de validação neste sentido.

Se o Itamaraty, o Poder Legislativo e o Executivo brasileiros conseguirem atravessar os obstáculos retóricos do governo Trump, cujo presidente já voltou atrás diversas vezes em pouco mais de seis meses de mandato, é possível que o tarifaço seja revisto, quem sabe ainda este ano. Por outro lado, pressões institucionais e empresariais nos EUA podem influenciar a reavaliação da Casa Branca sobre o assunto.

Quanto ao desfecho do julgamento de Jair Bolsonaro no STF, é difícil prever se irá fazer Trump recuar ou dar algum temerário passo adiante em retaliações obtusas e obscuras contra o povo brasileiro.

Confira a charge do JC desta quinta-feira (31)

Thiago Lucas
As investidas de Trump e a soberania do Brasil - Thiago Lucas

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