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Editorial JC: Do machismo ao feminicídio

Caso em São Lourenço da Mata ilustra o aumento de assassinatos de mulheres e o alto número de queixas de violência doméstica em Pernambuco

Por JC Publicado em 30/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 30/07/2025 às 6:46

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Depois de 15 anos de um relacionamento que começou na adolescência, ela resolveu dar outro rumo para a vida. E se libertar de uma situação, no mínimo, aprisionante, buscando seguir seu destino com independência.

Mas ele, o ex-companheiro, não aceitou a mudança. E passou a ameaçá-la abertamente nos círculos familiares e sociais comuns. Os depoimentos de pessoas próximas relatam que o mais recente caso de feminicídio em Pernambuco, na cidade de São Lourenço da Mata, era uma tragédia anunciada. A raiva premeditada diversas vezes – ele dizia como iria cometer o assassinato – aconteceu.

O que causa maior indignação, sobretudo em quem conhecia a vítima de perto, mas também para os cidadãos que recebem esse tipo de notícia com deprimente frequência, é como a violência machista se manifesta, impune, até o desfecho trágico, quase esperado, de um feminicídio.

A proteção de mulheres não se realiza a contento. A rede de relacionamentos familiares e de amizade não consegue impedir a continuidade dos ataques, sejam físicos ou morais. E as instituições não demonstram estar preparadas para vigiar e condenar o machismo, como deveria ser condenado, prevenindo a permanência da brutalidade misógina que traz a morte de uma mulher como consequência.

De acordo com dados oficiais do governo do Estado, houve crescimento de 14% nos feminicídios, no primeiro semestre, em relação ao mesmo período em 2024. E poderiam ser mais.

No mesmo período, foram registradas quase 28 mil queixas de violência doméstica em território pernambucano. A situação de descontrole gerou a necessidade de simplificação do acesso às medidas protetivas, ou seja, à providência do distanciamento legal do agressor. Há pouco mais de uma semana, é possível solicitar medida protetiva sem ir a uma delegacia, ou mesmo fazer uso de um advogado.

A solicitação de urgência pode ser feita no site do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). A resposta será dada em até 48 horas, num prazo que dá alento a quem pode estar correndo imenso risco. Prazo que precisa ser cumprido, para destronar o machismo da posição de onipotência.

A mulher de 33 anos que morreu pela falta de controle do machismo, havia pedido medida protetiva, dois dias antes de ser assassinada. O criminoso, ex-companheiro, está foragido. O triste e prematuro fim de mais uma vida feminina em Pernambuco prova que as instituições devem fortalecer as mulheres, com apoio, estrutura e justiça.

Para quebrar o ciclo que vai do machismo ao femincídio, a cultura da violência tem que ser desmontada desde cedo, pela educação, e combatida sem trégua diante de casos como esse, em São Lourenço da Mata.

Confira a charge do JC desta quarta-feira (30)

Thiago Lucas
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