Repressão explícita nos EUA
Onda de perseguição e prisão de imigrantes nos primeiros meses do governo de Donald Trump não é apenas assunto interno – e assusta o mundo

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Mesmo nos momentos históricos em que a política norte-americana não era unanimidade no planeta, e sobretudo desde o final da Segunda Guerra, quando o mundo se repartiu em dois blocos ideológicos, até a queda do Muro de Berlim, em 1989, e depois disso, os Estados Unidos da América cultivaram e fizeram propaganda de um estilo de vida baseado na liberdade dos indivíduos. Em Nova York, a Estátua da Liberdade celebra a democracia e seus valores há mais de um século, tendo sido inaugurada em 1886. Terra acolhedora para refugiados e imigrantes de vários países, os EUA reforçavam a identidade cosmopolita, difundindo ideais democráticos vivenciados, na prática, por cidadãos orgulhosos de sua feição coletiva diversa, garantida por um Estado fiador dos direitos da diversidade.
Em 2025, tudo isso parece um passado longínquo. A volta de Donald Trump à Casa Branca marca o início de um período tenebroso, em que até seus eleitores questionam os métodos coercitivos utilizados pelo governo, em assuntos externos, como as sobretaxas a importações, e também nos problemas internos. A chamada agenda de costumes vem sendo cumprida, afetando especialmente o ensino superior. O negacionismo ganha status de versão oficial, através de declarações e medidas contra a ciência. Mas é na questão migratória que o horror estabelecido choca a população – de imigrantes ou não – e alastra no planeta o temor de ver alguém com tanto poder, como o presidente dos Estados Unidos, trilhar o caminho da arbitrariedade e da violência com a naturalidade de um tirano que não precisa prestar contas a ninguém, nem demonstrar respeito às instituições que o legitimam.
Sob a alegação de cumprir a promessa de campanha, deportando milhões de imigrantes em situação irregular, o governo Trump está deixando cidades inteiras como Los Angeles em tensão permanente. Depoimentos de pessoas em pânico e imagens chocantes das ações policiais contra imigrantes, alguns que vivem nos EUA há décadas e têm famílias constituídas, circulam nas redes sociais e na imprensa, lá dentro e fora do país. Com o passar dos meses, vai ficando mais evidente o modus operandi totalitário do atual ocupante da Casa Branca. A busca e o recolhimento de imigrantes têm sido vistos e denunciados como contradições explícitas do espírito de liberdade que forjou uma potência econômica e cultural.
Relatório divulgado na última segunda-feira por três organizações, incluindo a Human Rights Watch, denuncia abusos em instalações do governo Trump na Flórida. Entre os testemunhos, relatos de maus tratos, fome e humilhação. A violação dos direitos humanos, tão apontada pelos EUA ao longo dos anos para o cenário em outros países, está acontecendo lá mesmo, de modo recorrente, gerando cada vez mais protestos nas ruas e questionamentos no Congresso e no Judiciário. Além disso, os depoimentos de imigrantes deportados e de familiares de presos, ao lado de outras medidas e declarações de Trump, fazem com que o medo da insanidade no poder se propague, mais uma vez, em todos os recantos da Terra.