Mais leitura, menos dopamina
Estudo inédito indica o prejuízo do uso das telas para o aprendizado, mostrando a vantagem de quem lê mais, mesmo se forem textos curtos

Diversas pesquisas foram realizadas nos últimos anos, a respeito do assunto. E especialistas têm alertado mães, pais e professores dos males do tempo prolongado de crianças e adolescentes nas telas. Sobretudo com celulares na frente dos olhos, e mais ainda, deslizando a atenção quase de segundo a segundo na sequência dos vídeos breves de aplicativos de entretenimento, produzidos justamente para isso: cativar a curiosidade por alguns segundos, passando o bastão da ativação da dopamina para o próximo vídeo curto. A dopamina é o neurotransmissor do prazer, cujo acionamento prolongado e repetido causa uma espécie de vício que distrai, gera ansiedade e outros distúrbios, entorpecendo e embotando o raciocínio.
Em estudo recente na Alemanha, foi comparada a eficiência de aprendizado entre os vídeos verticais de duração comum aos aplicativos do Instagram e TikTok, por exemplo, e textos de leitura em tempo semelhante. O objetivo era investigar se os vídeos breves, com conteúdos informativos, deveriam ser utilizados pelas universidades, em uma forma complementar de ensino, aproveitando a comunicação massificada pelas redes sociais. A resposta foi negativa, ratificando pesquisas anteriores que demonstram a superficialidade da fixação do conhecimento misturado ao consumo imediatista e veloz dos estímulos visuais e sonoros passando entre os dedos dos celulares.
O aprofundamento do raciocínio continua sendo melhor através da leitura de textos, mesmo se em período semelhante à exposição aos vídeos. Ler uma frase ou um parágrafo em alguns segundos é mais eficaz para o aprendizado que se vidrar na frente da telinha, ainda que o conteúdo seja educativo – pois os efeitos dos vídeos são dispersivos, e não de fixação da memória e de mergulho no raciocínio, como acontece na leitura. Além disso, não se tem, com a leitura, a cachoeira de impulsos suscitada pelos aplicativos. De acordo com o Instituto de Psicologia da Educação da Universidade Técnica de Braunschweig, a efemeridade dominante nas redes sociais não deve ser aplicada ao ensino superior, pois almeja a liberação de dopamina, e não o esforço – e a recompensa – da cognição.
O pensamento analítico é diferente, e requer outros processos e mecanismos mentais para se desenvolver, para os quais a leitura continua sendo mais propícia. O achado não deve ser visto como argumento tecnofóbico, mas serve para contrapor os tipos diferentes de raciocínio associados à imagem e à palavra textual. Vale dizer que, na pesquisa, os textos também apareceram em telas, mas sem imagens, rolando para a simples leitura. A sequência de vídeos propiciou raciocínios superficiais e um comportamento passivo, enquanto a leitura proporcionou melhor assimilação de conteúdo que os vídeos educativos apresentados durante o mesmo tempo, cerca de um minuto e meio.
Mesmo sendo um estudo preliminar, que requer novas abordagens, as conclusões vão na mesma linha de anteriores, reforçando o prejuízo da cultura da imagem aleatória para a formação do conhecimento e da personalidade nos jovens.