Fator maior de desestabilização
A escalada do conflito entre Israel e o Irã pode se tornar imprevisível, com a cogitada participação dos Estados Unidos contra os iranianos

O cálculo estratégico de participação em uma guerra não iniciada por seu país pode ser algo diferente para os Estados Unidos – que nas últimas décadas têm criado as ofensivas em que envia mísseis, aviões e tropas. A exposição da hipótese também pode ser um grande blefe para assustar os iranianos, diante da dimensão do poder bélico norte-americano. Mas a força da narrativa israelense, encampada por Washington e amplificada pelo presidente Donald Trump, parece tender à entrada dos EUA na campanha planejada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, de Israel. Segundo a intenção declarada por Netanyahu e repetida por Trump, a destruição do programa nuclear do Irã é o alvo, que para ser realizado talvez dependa da derrubada do atual regime no governo. Nem Israel nem os EUA adiantam qualquer objetivo para um eventual pós-guerra em que os atuais líderes iranianos estejam fora do poder – ou mortos.
O presidente norte-americano faz mistério, embora o deslocamento de aviões e navios para o Oriente Médio já comece a ser relatado. Em entrevista, afirmou que os iranianos o procuram para mediar um acordo, mas talvez seja tarde para conversar, segundo ele. A postura de Trump é de seriedade mesclada com deboche, quando trata o resto do mundo com desdém. Do outro lado, os líderes do Irã devolvem ameaça com ameaça, lançando palavras de medo para os israelenses e os norte-americanos. A tensão resultante se expande no Oriente Médio, alcança os países vizinhos e cresce em descontrole, caso a entrada dos EUA se concretize, pois há relações históricas conhecidas dos iranianos com a Rússia e a China, duas potências capazes de enfrentar a Casa Branca em patamares de menor desequilíbrio.
Apontar o país atacado por Israel como “indefeso” não soa como presságio de participação. Nesse caso, a participação se caracterizaria muito mais como covardia, por parte da comunidade internacional que já rechaça as ofensivas de Netanyahu em Gaza e, agora, no Irã. O tamanho do aparato militar dos EUA não se compara a de nenhum outro país, e Trump sabe disso. Mesmo assim, entrar nessa guerra pode desencadear consequências geradoras de mais instabilidade na região, e talvez no mundo, pelo desafio que representa a russos e chineses. Tudo fica ainda mais nebuloso se imaginarmos como os líderes desses países receberiam a confirmação da participação.
A continuidade dos ataques de mísseis iranianos sobre Israel, por vários dias consecutivos, debilitando o sistema antiaéreo, talvez se torne o principal motivo para a anunciada participação dos EUA. Mesmo que se tenha a capacidade do Irã menor do que a de Israel, o prolongamento da troca de mísseis – e de destruição e mortes – pressiona o governo israelense, que por sua vez não tem como voltar atrás, depois do que Netanyahu já falou e fez. Resta saber se Trump vai querer entrar e tomar o protagonismo, assumindo os riscos – não somente para ele, mas para todos os norte-americanos.