ECONOMIA | Notícia

Geração de renda - e vida

Avanço da criação de negócios nas favelas nordestinas revela oportunidades que precisam ser estimuladas e ampliadas nas comunidades

Por JC Publicado em 17/06/2025 às 0:00

Mesmo nos lugares em que as dificuldades são imensas, a começar da infraestrutura e do capital inicial para investir, os micros e pequenos negócios prosperam no Nordeste brasileiro. Sinal de criatividade advinda de necessidade urgente para suprir a sobrevivência dia após dia, o empreendedorismo se dissemina nas favelas – do jeito que é possível se disseminar. Afinal, na maioria dos casos, falta a condição básica para empreender, e assumir o risco de um negócio que está atrelado ao atendimento de demandas elementares dos empreendedores, mais do que dos possíveis clientes. É assim que a geração de renda se transforma em geração de vida, em ambientes que poderiam ser vistos como refratários aos negócios, mas que despontam como acolhedores de boas ideias para a coletividade do entorno, traduzidas em iniciativas voltadas para o bem da comunidade.
O Sebrae Nacional e o Instituto Locomotiva divulgaram, no Recife, estudo que revela a importância do empreendedorismo nas favelas nordestinas. Tanto para quem abre o negócio, quanto para o público, que se identifica com o produto ou serviço em sua localidade, valorizando o pertencimento e a autoestima dos moradores. A pesquisa abrangeu 657 empreendedores em 12 favelas da região. Quase a totalidade dos entrevistados, 99%, afirmou que as atividades desenvolvidas se dão na própria comunidade em que vivem. O que não destoa da tradição dos pequenos negócios, que trazem essa característica de vizinhança em sua história. Mas acentua a dimensão do alcance comunitário de atividades econômicas integradas a efeitos sociais diretos, em comunidades onde a qualidade de vida não é a ideal.
Se ao invés de materialização de um desejo de autonomia, é a necessidade do ganha-pão que rege mais de 40% dos empreendedores, que perderam seus empregos e juntaram forças para abrir um negócio, e 77% optam pela informalidade, a importância coletiva da ativação econômica é notória. Para quase três quartos dos pesquisados, a renda do negócio é vital para a família, e quase a metade respondeu que a renda familiar depende dele. Quase dois terços afirmaram a vontade de apoiar a comunidade, e 61% dão preferência aos produtos e serviços comunitários.
Os problemas apontados não surpreendem. Falta capacitação, inclusive de gestão de negócios, para a maioria. E o preconceito surge, não do lado de dentro, mas do lado de fora da favela, quando os empreendedores buscam ampliar sua fronteira de atuação. A burocracia desestimula a formalização, assim como o desconhecimento dos benefícios de um negócio formal.
Para que o otimismo detectado com o futuro dos empreendimentos prevaleça, essas pessoas – na maior parte, mulheres negras de baixa escolaridade – precisam do apoio do poder público e da sociedade em geral. Com melhores condições de implantação e desenvolvimento, e um ambiente favorável, os negócios nas favelas têm tudo para mudar as comunidades e crescer junto com elas, estimulando patamares de desenvolvimento individual e coletivo capazes de cobrar a satisfação dos direitos elementares da população, assim como atender às demandas da comunidade.

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