MOBILIDADE | Notícia

Editorial JC: A emergência pública das motos por aplicativos

Governos e sociedade não podem mais ignorar as consequências dramáticas da profusão de motos com passageiros nas cidades brasileiras

Por JC Publicado em 16/06/2025 às 0:00 | Atualizado em 16/06/2025 às 6:39

Sem regras haverá mais feridos e mortos, na transformação do transporte em uma guerra diária com vítimas em todo o país. Ou o Brasil assume de maneira integrada e responsável a questão do transporte de passageiros por aplicativos de motocicletas, ou os efeitos para a saúde pública continuarão se multiplicando, sobrecarregando a rede de assistência e penalizando duplamente a população – por um lado, exposta aos riscos da mobilidade em duas rodas, por outro, com serviços de saúde pressionados pelo trânsito sem regulação.

O JC abriu uma série de reportagens para debater a necessidade inadiável de se discutir e implantar regras para esse tipo de modal, que se aproveita do vácuo do transporte coletivo de qualidade, para fazer da deficiência estrutural uma oportunidade de negócio em cima da vulnerabilidade do poder público e da população.

O trabalho minucioso de Roberta Soares, colunista do JC, faz um panorama das estatísticas de calamidade que não podem ser mais ignoradas, como se fosse um assunto do mercado. Acima de tudo, trata-se de uma questão de interesse público, que precisa do envolvimento e da decisão dos governantes, parlamentares e até do Judiciário, enquanto a regulamentação não é construída a partir de consensos e de uma visão abrangente das vantagens e desvantagens para a população.

Sem que os gestores municipais se posicionem para proibir o transporte enquanto a regulamentação não chega, à exceção do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, cuja batalha jurídica é acompanhada nacionalmente, o transporte por motos espalha insegurança e danos corporais, e até a morte, em sinistros por todo o Brasil.

A omissão de segurança, praticada pela maioria dos condutores, muitos sequer sem habilitação adequada, também é imputável ao poder público que fecha os olhos para o problema e faz de conta que não tem nada com isso. Especialistas em segurança do trânsito e gestores da saúde pública não cessam de lançar estudos e alertas a respeito do cenário cada vez mais de descontrole. O transporte por motos já é uma emergência social no país do improviso, que chega dramaticamente à mobilidade mal servida.

Em 4 mil municípios, incluindo a quase totalidade das capitais, o serviço de motos por aplicativo é oferecido aos cidadãos. Os benefícios imediatos aparecem diante dos sistemas de transporte coletivo inseguros, demorados, desconfortáveis e caros: as motos podem ser mais rápidas e seguras, além de mais baratas do que outras alternativas, como aplicativos de transporte por carros.

A população, legisladores e o poder Judiciário podem cobrar dos governantes a responsabilidade pelo transporte coletivo, em especial, demandando investimentos nas linhas de ônibus e metrôs – que no Recife e Região Metropolitana exibem a crise enorme que afeta o setor, agravada pelo desinteresse da gestão pública.

O papel da imprensa é mostrar o quadro preocupante verificado em todo o país, não apenas em Pernambuco. As soluções locais precisam acontecer, já que o governo federal e o Congresso parecem pouco inclinados a se debruçar sobre o flagelo da mobilidade no Brasil.

Confira a charge do JC desta segunda-feira (16)

Thiago Lucas
Conflito entre Israel e Irã - Thiago Lucas

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