Como parar os mísseis do ódio?
Escalada bélica entre Israel e o Irã deixa mortos dos dois lados e assusta um planeta que normaliza a indústria armamentista e seus shows de sangue

Pontos e traços de luz que lembram videogames compõem a imagem recorrente nas telas ligadas a olhares atentos em todo o mundo. Mais uma vez, ataques de mísseis e drones cruzam o céu do Oriente Médio, tendo Israel como pivô de uma crise que se agrava e pode se alastrar, em escalada ainda pior. Os israelenses justificam ofensivas com retóricas de segurança, como se a imposição da segurança pelas armas e pelo derramamento de sangue conduzisse à paz. O Irã responde na mesma moeda, e quer o direito de construir e possuir armas nucleares para sua defesa – o mesmo direito que Israel detém, sob a proteção dos Estados Unidos. Mas a bomba nuclear não é fogo para se brincar, respondem as potências que preferem sonhar em destruir o mundo sozinhas.
Enquanto a tensão se eleva e as perdas se multiplicam – de vidas, de rotinas, de tempo – a indústria do ódio se aprimora e ganha mais dinheiro. Jamais na história humana se torrou tantos bilhões de dólares em armas, munições e pesquisas para novas armas e munições. Os cenários de conflitos prolongados, como na Ucrânia e em Gaza, contribuem para que os países vizinhos se preparem para eventuais necessidades de defesa e de ataque. Outros pontos críticos acendem, a exemplo das Coreias e da Índia com o Paquistão. E mesmo nos Estados Unidos, a tradição de conflitos internos está de volta, com a péssima perspectiva ateada por um presidente da República que gosta de atiçar o ódio como política de governo.
As polarizações forjadas em diversos países, aliás, respondem ao mesmo apelo de ódio a um outro qualquer, que sirva de modelo para recriminações, intolerância e descarte. A convivência entre os povos é utopia distante, quando a convivência entre familiares ganha entraves que parecem intransponíveis, como aconteceu no Brasil em eleições recentes. Donald Trump, Vladimir Putin, Benjamin Netanyahu e os líderes do Oriente Médio que se armam da fé para odiar, afastando-a do amor que reside na origem das religiões, são sintomas de uma época propícia ao ódio. Nada mais natural para a cultura global baseada em jogos de morte, que a morte banalizada pela violência de armas reais que simulam os games.
A indefinição no horizonte se sustenta, no caso do embate imprevisível entre Israel e o Irã, mesmo com a falta aparente de apoio dos Estados Unidos e da Rússia. A posição da China é quase sempre uma incógnita que aumenta a incerteza. Enquanto a estratégia de Netanyahu seguir sendo avançar na destruição da estrutura nuclear do Irã, e os iranianos mantiverem o ímpeto e a capacidade de reação, os arsenais dos dois lados terão que ser repostos para realimentar o ódio. A partir daí, o trabalho de norte-americanos e russos, e até dos israelenses e dos iranianos em relação a seus líderes, será o de dissuasão: para impedir que o ódio se alastra, os ataques precisam ser substituídos pelo cada vez mais difícil – e indispensável – diálogo.