Atraso no PNE freia o País
Descumprimento das metas contidas no Plano Nacional de Educação (PNE) compromete o desenvolvimento e estreita o futuro das novas gerações

Entre o que se diz e o que se faz, os governos em geral no Brasil já teriam retirado o país da condição de penúria e baixa qualidade de vida por que passam milhões de cidadãos. Gerações se sucedem, presidentes da República, governadores e prefeitos entram e saem, ou se alternam no poder, parlamentares idem, e pouco acontece de fato para mudar para melhor a vida da população. A democracia continua sendo a única alternativa – mas os representantes do povo brasileiro poderiam ter feito muito mais para aproximar as transformações prometidas, nas últimas décadas, da realidade experimentada hoje pelos habitantes de uma das nações mais desiguais do planeta.
Se existe um consenso a respeito da ampliação de possibilidades para o desenvolvimento de qualquer grupamento humano, em toda a face da Terra, é que sem investimento em educação, dificilmente o crescimento coletivo permitirá grandes saltos. Trata-se de um investimento que não pode se restringir a um mandato de quatro ou até oito anos, mas se estender por décadas, para começarem a ser colhidos os frutos da democratização do conhecimento e do aperfeiçoamento de tecnologias. No Brasil, alguns políticos bateram nessa tecla, como o pernambucano Cristovam Buarque, sem conseguir mobilizar um conjunto maior de forças em prol da educação como base do desenvolvimento.
Um dos pilares desse objetivo, o Plano Nacional de Educação, em sua segunda edição, está completando uma década sem alcançar as metas propostas. O atraso desacredita o planejamento e seus proponentes, mina a confiança no poder público e sua capacidade de cumprir metas, e sobretudo, impõe barreiras ao desenvolvimento coletivo, limitando o amadurecimento individual dos brasileiros. Menos de 40% das crianças de até 3 anos de idade estavam na escola no ano passado, quando a meta do PNE era de 50% até 2016. O atraso não é desprezível. A universalização prevista para outras faixas etárias não foi alcançada, bem como a de ver um terço dos jovens de 18 a 24 anos no ensino superior.
O primeiro PNE, de 2001 a 2011, também não cumpriu várias das metas estipuladas. Tanto aquele como o mais recente obtiveram avanços na direção programada, mas os passos dados não resultaram na conquista esperada. Um novo plano se encontra em tramitação no Congresso, para reger a educação nacional até 2034. Além de novas metas, o PNE 3 deverá incorporar tudo o que os dois anteriores não tiveram como metas cumpridas. A desigualdade racial poderá ser um dos focos, já que tanto no ensino médio quanto no superior, a diferença entre brancos e pretos ou pardos continua grande, com os do último grupo bem atrás nas estatísticas.
Num país em que mais de 9 milhões de pessoas de 15 anos ou mais não sabe ler nem escrever, numa massa superior a 5% da população, das quais 5 milhões estão no Nordeste, a priorização da educação não poderia ser posta em questão. Infelizmente, na prática, como demonstram os números e as dificuldades coletivas, educar não é prioridade no Brasil.