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Editorial JC: Medo nas comunidades

Pesquisa revela que quase três quartos dos jovens recifenses se sentem inseguros e desamparados do poder público nas comunidades em que vivem

Por JC Publicado em 12/06/2025 às 0:00 | Atualizado em 12/06/2025 às 6:43

A vulnerabilidade social é uma condição que não pode ser vista como dada e definitiva, se quisermos pensar um país melhor para as novas gerações. Para mudar a realidade das populações vulneráveis, é preciso mais do que discursos repetidos em campanha eleitoral, e por governos que continuam prometendo mais do que fazendo, no exercício do poder.

Para efetuar transformações estruturais duradouras, o poder público, apoiado por organizações da sociedade, há de focar no desenvolvimento de crianças e adolescentes, e na inclusão de jovens que passaram o amadurecimento em desamparo, e buscam oportunidades para não sucumbirem ao assédio da criminalidade, ou serem vítimas dela.

Em pesquisa nas comunidades da capital pernambucana, nada menos que 74% da população de 14 a 29 anos de idade se sentem pouco ou nada seguros nos locais onde vivem. Trata-se um indicador da gravidade que envolve um problema histórico de desigualdade, exclusão e omissão do poder público ao longo das últimas décadas, sem que os discursos em defesa dos mais pobres tenham se revelado mais do que palavras de palanque, pouco ou nada efetivas – como a segurança nas comunidades.

Os governos cuja responsabilidade abarca a gestão prioritária dos vulneráveis – em todos os níveis, mas em especial a prefeitura, o poder mais próximo dos cidadãos – não despertaram para a urgência cotidiana de proteger e estimular a melhoria da vida dessas pessoas, expostas a um ambiente degradado econômica e socialmente, e também institucionalmente, abandonado pelo poder público.

Da estatística oficial de 252 assassinatos no Recife, somente entre janeiro e maio deste ano, quase a metade, 47%, tiveram como vítimas adolescentes ou jovens de comunidades vulneráveis. Para mudar esse quadro de calamidade social, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), através da Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2, que realizou a pesquisa mencionada, está lançando o projeto Juventudes pela Cultura de Paz. Cinco locais da capital receberão ações do projeto: o Morro da Conceição, Alto José Bonifácio, Alto do Brasil, Linha do Tiro de Brejo da Guabiraba. O critério da escolha desses locais aliou os índices de violência com a existência de iniciativas da Igreja Católica em curso.

Outro dado sintomático da pesquisa é que a imensa maioria dos adolescentes e jovens, ou 93%, desconhecem a existência de programas de prevenção à violência nas escolas e nas comunidades onde moram. Para Mona Mirella, da Cáritas Nordeste 2, verifica-se “uma desconexão preocupante entre os direitos garantidos por lei e o acesso real à justiça nas comunidades. Esse cenário reforça a urgência de implementar ações consistentes e participativas, que fortaleçam o protagonismo juvenil, articulem redes comunitárias de apoio e disseminem uma cultura de paz”, defende.

Tal desconhecimento deveria ser tomado pelo poder público, especialmente a municipalidade, atualmente a cargo da gestão João Campos, como um vácuo que é necessário ser preenchido, para que a vulnerabilidade não continue sendo um convite à violência e ao descontrole urbano.

Confira a charge do JC desta quinta-feira (12)

Thiago Lucas
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