Editorial JC: Potencial gigante por natureza
Crescimento da indústria turística, no primeiro trimestre, recorda as vastas possibilidades não aproveitadas para desenvolvimento do país

Com faturamento acima de R$ 55 bilhões nos três primeiros meses de 2025, o turismo no Brasil alcançou valor recorde desde 2014, quando se faturou R$ 52 bilhões. O cálculo é da Fecomércio de São Paulo, com base em dados do IBGE, e significa um aumento de quase 6% em relação ao ano passado.
São números animadores, que estimulam novos investimentos e podem proporcionar a consolidação de destinos e roteiros turísticos, num dos países do mundo em que o turismo é mais associado à identidade natural e cultural. Mas, infelizmente, poderia participar muito mais do desenvolvimento nacional. O potencial gigante por natureza ainda não foi atendido, em comparação com o que se vê em outros países.
A Bahia, o Rio de Janeiro e o Ceará aparecem como principais destaques em março, enquanto o Mato Grosso, Roraima e o Rio Grande do Sul tiveram quedas no faturamento. Num território de dimensões continentais, como se diz, e a variedade geográfica e cultural que temos, os brasileiros registram diferenças na oferta e no aproveitamento de atividades relacionadas ao turismo. O que atrai visitantes a São Paulo não é o mesmo que chama viajantes para Manaus ou Belém, assim como os destinos do litoral não competem diretamente com aqueles situados no interior, do semi-árido nordestino ao Pantanal.
A atenção das populações e dos governos locais também varia de estado a estado, de município a município. Em Pernambuco, por exemplo, há decadência visível em duas marcas nacionais do turismo: Porto de Galinhas e Fernando de Noronha. Dois dos mais famosos destinos de sol e mar do país não têm sido tratados como deveriam pelos próprios pernambucanos.
Falta sensibilidade, atenção e planejamento, tanto para manter o atrativo quanto para melhorar a estrutura para elevar a competitividade, em ambos. No caso de Noronha, basta lembrar o longo período em que o arquipélago ficou sem receber voos comerciais de porte, por problemas na pista do aeroporto. E em relação ao Porto, o crescimento desordenado tem prejudicado a impressão dos turistas, que já começam a ter problemas desde o acesso à praia e seus hotéis.
As marcas pernambucanas são igualmente marcas brasileiras, com Noronha e Porto de Galinhas figurando entre os principais destinos, há décadas. É crucial manter essa oferta com qualidade, pois Pernambuco tem muito a se beneficiar.
Com 4,4 milhões de visitantes internacionais entre janeiro e abril, o Brasil também dispõe de indiscutíveis potenciais para receber mais gente residente fora do país. O fluxo internacional cresceu 51% em comparação ao mesmo período do ano passado, e 72% em relação a abril de 2024. O governo federal espera cumprir a meta para o país receber 6,9 milhões de turistas internacionais este ano, e chegar a 8,1 milhões em 2027.
Os frutos para o empreendedorismo e os benefícios coletivos das atividades turísticas deveriam inserir o setor nas prioridades dos governos em todos os níveis. Ainda não é o que acontece, mesmo quando o desempenho revela um horizonte promissor.
Confira a charge do JC desta quarta-feira (11)