MOBILIDADE | Notícia

Transporte coletivo em crise

Com o metrô sucateado e frotas de ônibus em más condições, habitantes da Região Metropolitana do Recife carecem de opções seguras para se deslocar

Por JC Publicado em 10/06/2025 às 0:00

A multiplicação das motos como meio de transporte individual que se faz de simulacro de transporte coletivo, nos principais centros urbanos do Brasil, tem gerado efeitos nocivos à saúde das pessoas e à segurança do trânsito nas cidades. As estatísticas de sinistros envolvendo motos, em todo o país, demonstram o alto risco associado à aparente vantagem da mobilidade em duas rodas. Se o fenômeno é percebido até na maior cidade do país, São Paulo, bem servida de serviços metroviários e de linhas de ônibus que cumprem satisfatoriamente a sua função, contando com vários quilômetros de faixas exclusivas respeitadas pela população, no Recife o problema é mais grave.
O agravante para os recifenses e demais moradores da Região Metropolitana não é apenas a degradação prolongada do metrô, que ao invés de ser expandido, como em outras capitais nordestinas, vem encolhendo ao longo das últimas décadas de descaso e desinteresse do poder público. Como se não bastasse a falta que um bom metrô faz, os ônibus não dispõem de rotas suficientes, e os veículos disponíveis não cumprem o papel como deveriam, partindo lotados e exibindo o desgaste de frotas envelhecidas que não oferecem conforto nem segurança aos usuários. A preferência, então, migra para as motos e seus aplicativos que vendem o custo-benefício como se não houvesse qualquer risco à população – e como o fluxo de acidentados nos hospitais mostra que há.
Levantamento do JC-PE apontou que mais da metade dos cerca de 2 mil ônibus em circulação na Região Metropolitana do Recife contam acima de sete anos de uso, tempo considerado arriscado para o transporte de passageiros. Além disso, em dois anos, de 2023 para cá, verificou-se uma redução da frota, com 137 veículos a menos em operação. A crise vai se instalando, sem que empresas e governos apresentem alternativas inteligentes e viáveis para o desafio da mobilidade. A deterioração dos ônibus é outra faceta da crise, que também empurra a população para a falácia e o improviso das motos como solução coletiva – quando é cada vez mais um problema coletivo para o qual os gestores públicos precisam se voltar.
O número de ônibus operando após a vida útil ideal saltou de 568 para 868 desde 2023. Esse envelhecimento da frota assusta e afasta os usuários, num processo semelhante ao que se deu com o metrô. É verdade que a atratividade para os ônibus como transporte coletivo é um desafio em todo o mundo, especialmente onde o sistema metroviário funciona com uma grande malha para diversas direções. Não por acaso, cidades brasileiras já experimentam a gratuidade como estímulo. Na Região Metropolitana do Recife, a falta de opções de qualidade é que distancia as pessoas do transporte coletivo. A decadência dos ônibus é mais um triste capítulo dessa história. As empresas concessionárias devem explicações, e os gestores públicos, compromisso com a causa da mobilidade, que também é um direito do povo.

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