OCEANOS | Notícia

Planeta de águas profundas

Encontro mundial sobre os oceanos trata de sua importância para a vida, e dos impactos das mudanças climáticas sobre um ambiente desconhecido

Por JC Publicado em 09/06/2025 às 0:00

O imaginário coletivo que transmitia histórias de criaturas gigantescas e estranhas nos mares foi bem captado por Julio Verne e outros autores, popularizando livros como “20.000 léguas submarinas”. O contexto da aventura, ampliado por embarcações inseguras e a existência de poucos dados a respeito das rotas de navegação, fez do transporte marítimo um marco no desenvolvimento dos povos, e integrou os primórdios da civilização global. Mas alguns séculos depois da conquista dos oceanos e do mapeamento das águas sobre o planeta, a ciência ainda carrega inúmeras perguntas para as profundezas que cobrem mais de 70% da Terra. E o que não se sabe resgata a teratologia de eras antigas, num momento em que as mudanças climáticas alimentam expectativas de inundações a partir do aumento no volume dos oceanos, nas próximas décadas e séculos.
O derretimento das geleiras e as alterações em curso nas correntes marinhas e no clima produzem cenários apocalípticos para ilhas e cidades costeiras. As hipóteses mobilizam os governos de pequenas nações cercadas por água salgada por todos os lados, e deixam populações litorâneas em risco, já que há diversas metrópoles formadas ao longo das costas. No Brasil, diversas capitais estão nessa condição, como o Rio de Janeiro, o Recife e outras no Nordeste. O que pode acontecer com os oceanos, se a temperatura média no planeta continuar subindo? E com as ocupações humanas e ecossistemas naturais, se o nível das águas subirem como se prevê?
Tem início nesta segunda, em Nice, na França, a 3ª Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos. A observação dos impactos das mudanças climáticas deve reforçar a importância da preservação do ambiente marinho, bem como da necessidade de um conhecimento maior sobre esse ambiente, para proteger a vida que há nele e seu papel no equilíbrio da biosfera. Pouco mais de um quarto do fundo do mar já foi devidamente mapeado, na maior parte em localizações próximas ao litoral. Muitas montanhas submarinas são completamente desconhecidas. Há muito para se saber, com o objetivo de salvaguardar as características essenciais para a vida na Terra.
Como de praxe, uma declaração em prol dos oceanos será anunciada ao encerramento do encontro. E como tem sido a regra nos últimos anos em relação às cúpulas ambientais, não se espera muito do documento. Apesar dos esforços diplomáticos e do tom cada vez mais alarmista dos cientistas, os governos nacionais e as organizações globais, sem a pressão que poderia vir das populações, continuam relegando a um plano secundário as ações de adaptação e preparação para um planeta em rápida transformação. A Terra já mudou bastante ao longo de 4,5 bilhões de anos de existência, dos quais apenas alguns milhares de anos sob a influência dominante do ser humano. Se compreendermos com humildade o peso da civilização para a vida na Terra, teremos alguma chance de seguir a aventura humana da descoberta de mundos misteriosos – começando, novamente, pelo nosso, mergulhando na profundeza dos oceanos.

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